O professor e ex-reitor Clodoaldo Alencar Filho, que faleceu no sábado, 13 de março, e foi sepultado neste domingo, 14, era pessoa muito querida entre os seus colegas de docência, estudantes e servidores da Universidade Federal de Sergipe. Era bem humorado, conversador, tranquilo e não guardava mágoas, até mesmo daqueles que mais o provocavam. Era ousado e, ocupando a Reitoria, recebia até mesmo aqueles grupos que mais eram identificados como seus opositores. “Aqui na UFS é todo mundo gente boa”, justificava assim a atenção dada.
No período em que foi reitor, de 1988 a 1992, o movimento estudantil ainda pulsava na UFS. As lideranças estudantis conseguiam mobilizar e levar muitos discentes para atos de protestos nas ruas de Aracaju e nas dependências do Campus de São Cristóvão (Rosa Elze) onde, de vez em quando, fazia-se “visitas reivindicatórias” ao prédio da Reitoria.
Alencar recebia os manifestantes, mesmo aqueles que demonstravam irritação com o “boi ralado” (carne moída servida no almoço). Os estudantes lhe entregavam uma pequena pauta de reivindicações. Ele lia uma por uma em voz alta e depois se voltava para as lideranças. “É só isso? Vou ampliar a pauta de vocês. Que tal mais livros para a biblioteca, mais professores, ,ais cursos, mais salas de aulas…?” Os alunos concordavam com a pauta dele e deixavam a reitoria.
Quando todos saiam da sala do reitor ou da sala de reuniões (uma espécie de anexo), Alencarzinho desabafava: meninos e meninas danados. Acham que é fácil conseguir as coisas em Brasília”. Dava uma risadinha e voltava para o seu gabinete. Depois providenciava atender algumas das reivindicações dos “visitantes”.
O reitor gostava de receber estudantes, professores e servidores. “Vocês vem aqui protestar e eu aproveito para pegar algumas boas ideias. Podem falar”. Mas se irritava quando apareciam propostas por demais ousadas, do tipo colocar os veículos da instituição para alunos, professores e servidores viajarem para encontros, congressos e outros eventos de caráter regional ou nacional. Reafia com coisa do tipo “querem que eu gaste o dinheiro todo da UFS com gasolina, né?”
Embora houvesse dificuldades, o então reitor deu alguns passos para fazer a UFS, onde foi aluno e depois professor, crescer. Em sua gestão foram criados novos cursos: Bacharelado em Informática, Engenharia Agronômica, Psicologia, Bacharelado em Ciências Sociais, Comunicação Social – Jornalismo, Arte e Educação, Rádio e Televisão. Ampliou o acervo bibliográfico da BICEN, criou o Núcleo de Assuntos Internacionais – NAI e promoveu a transferência do ambulatório do Hospital de Cirurgia para o Hospital Universitário.
A verdade é que Clodoaldo Alencar gostava de conversar. E quando recebia pessoas ligadas ao segmento cultural de Sergipe, a conversa rendia. Conversava muito sobre teatro, música, literatura, cinema e o Festival de Arte de São Cristóvão. O FASC rendia longos papos com os amigos e pessoas que participavam da organização do evento.
Resumindo tudo, Alencarzinho fez bem à UFS.
(Por Eugênio Nascimento)