Big Brother Brasil, aceitação e prevenção do suicídio

Erna Barros
Jornalista, professora da UFS e membro do CVV

O reality show Big Brother Brasil (BBB), no ar em sua 21ª edição, tem proporcionado todos os anos discussões que entram na casa de muitos brasileiros e fazem parte da pauta diária de uma parcela da população que assiste ao programa, seja no local de trabalho, junto à família, com os amigos, ou nos espaços virtuais das redes sociais. É inegável que um programa com grandes índices de audiência como o BBB tenha esse alcance, tendo em vista a força da comunicação televisiva e da intensa interação possibilitada pela internet.

Nesse contexto, algumas situações ou discussões podem ser observadas e trazer aprendizados. Uma delas foi trazida à tona após o desabafo de um dos participantes desta edição que, ao pedir para sair do programa, desistindo de continuar no jogo, expressou uma fala bastante significativa: “Eu não vou ser aceito aqui”. Diante disso, sem buscarmos entender as tramas do programa, podemos refletir sobre o significado da palavra aceitação e do sentimento que acompanha o fato de alguém não se sentir aceito. Importa entender que o sentimento de não aceitação é bastante doloroso para muitas pessoas, e ele normalmente é acompanhado de outros sentimentos que envolvem a dor do julgamento, da crítica, do isolamento e da incompreensão.

A aceitação é um dos pilares do trabalho do Centro de Valorização da Vida, junto ao exercício da empatia e a capacidade de compreensão do outro tal como ele é. A missão do CVV tem sido há quase 59 anos valorizar a vida e contribuir para que as pessoas tenham uma vida mais plena e, conseqüentemente, prevenir o suicídio. Buscamos, acima de tudo, oferecer apoio emocional às pessoas que precisam conversar e desabafar suas dores, suas aflições, suas decepções, seus questionamentos e suas inquietações através de um serviço oferecido principalmente pelo número 188 de forma gratuita. E sabemos que ao longo de todos esses anos, o CVV tem sido a opção de muitas pessoas que se sentem sozinhas, vivem uma dor profunda e não encontram ninguém em quem confiem para conversar. Jovens, idosos, homens, mulheres, negros, brancos, independentemente de classe social, credo, posicionamento político, todos são “público-alvo” do CVV, porque todos nós podemos sentir a necessidade de desabar em algum momento da vida.

Por isso, para ser voluntário do CVV é preciso acima de tudo saber aceitar o outro, compreender e acolher. O candidato a voluntário(a) realiza uma capacitação que o ensina a ouvir. E essa escuta é aquela “escuta amiga”, cheia de afeto, empatia, respeito e desprovida de julgamentos, características que, podem ser continuamente desenvolvidas por todos independentemente de ser voluntário(a) do CVV.

Sabemos pela experiência de diversos atendimentos que ser ouvido faz toda a diferença na vida de quem está sofrendo e precisa de acolhimento. E que a falta desse “ouvir” e desse “acolher” pode nos adoecer. Da mesma forma que um participante de reality show desiste de participar de um programa, muitos aqui fora também desistem. Mas do lado de cá, a desistência tem um significado diferente.

O CVV chega a atender cerca de 3 milhões de ligações por ano, muitas vezes de pessoas que em algum momento pensaram em desistir. Por isso, essa discussão também precisa chegar até a casa das pessoas, de forma segura, com informações que proporcionem reflexão sobre como podemos mudar essa realidade. Atitudes simples podem ajudar a salvar vidas: acolher a dor do outro sem minimizá-la, não invalidar o sofrimento alheio, e sim colocar-se à disposição para estar ao lado do outro, com o outro, sendo o apoio que muitas vezes o outro imagina não mais existir.

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