Luiz Carlos de Santana Ribeiro*
Economista e professor da UFS
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que é a soma de todas as riquezas produzidas no país, recuou 4,1% em 2020. Este resultado representa a maior queda desde o início, em 1996, da série histórica produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conforme ilustra a Figura 1. Da mesma forma, o PIB per capita, resultado do PIB dividido pela população, também apresentou queda, de 4,8%.
Figura 1: Taxa anual de crescimento real do PIB brasileiro (%), 2010-2020

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE.
Considerando a ótica da despesa ou da demanda, todos os componentes do PIB apresentaram retração, são eles: consumo das famílias (-5,5%), consumo do governo (-4,7%), investimentos (-0,8%), exportação (-1,8%) e importação (-10%). Associado a isso, a taxa de desemprego atingiu 13,9% no último trimestre de 2020, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD contínua. Este último resultado pode justificar, em parte, a queda considerável do consumo das famílias no mesmo ano.
Estudo recente publicado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que a pobreza e a desigualdade de renda aumentaram de forma alarmante em 2020. Segundo este estudo, a quantidade de pessoas que vive abaixo da linha da pobreza no Brasil triplicou, atingindo 27 milhões de indivíduos, o que corresponde a 12,8% da população brasileira. A alta taxa de desemprego que assola o país e, consequentemente, a falta de acesso a renda por boa parte da população, contribuem diretamente para este resultado.
Do ponto de vista setorial, o segmento de serviços foi o que apresentou o pior desempenho no ano de 2020, com queda de 4,5%, seguido pela indústria, com recuo de 3,5%. A agropecuária foi o único setor a apresentar crescimento, 2,2%. O crescimento do setor primário, em parte, pode ter sido influenciado pela alta do câmbio, uma vez que o Brasil é um importante exportador de bens agropecuários.
Vale ressaltar que o setor de serviços representa a maior participação do PIB no Brasil, acima de 70%, o que explica a intensidade do resultado negativo. A principal justificativa para isso é que a pandemia do Covid-19 afetou de forma mais significativa este segmento, uma vez que o mesmo é mais intensivo em mão-de-obra e, portanto, sofreu mais em decorrência das medidas restritivas adotadas pelos governos municipais, estaduais e federal. Setores industriais e do agronegócio, por outro lado, são mais intensivos em capital e, consequentemente, foram relativamente menos afetados.
Considerando as atividades que constituem o setor de serviços, conforme revela a Figura 2, Transporte aéreo e Alojamento e Alimentação foram as atividades que apresentaram maior retração em termos de volume, com quedas de 35,9% e 36,7%, respectivamente, no acumulado do ano.
Fig. 2: Variação do volume de serviços no acumulado do ano por atividades selecionadas (%) 2020

Fonte: Elaboração própria com dados da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE.
Apenas as atividades de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC), Transporte Aquaviário, Armazenagem, serviços auxiliares aos transportes e correio e Outros serviços apresentaram variação positiva do volume de serviços em 2020, com variações de 0,8%, 10,4%, 2,8% e 6,8%, respectivamente.
Alojamento e alimentação e Transporte aéreo são as principais atividades que constituem o setor de turismo, o qual, de acordo com a PMS, acumulou queda de 36,7% em 2020. O turismo foi impactado de forma direta e imediata pela pandemia. Além disso, sua recuperação possivelmente ocorrerá de forma lenta e gradual, pois envolverá aspectos associados a incerteza dos turistas em relação ao quão seguro estarão nas suas viagens, desde o deslocamento até a hospedagem e passeios.
As perspectivas econômicas e sociais para o ano de 2021, infelizmente, não são muito positivas. A lenta campanha de vacinação contra o Covid-19 causa muita incerteza ao ambiente econômico. O papel do estado em conduzir o país durante a pandemia é fundamental. Torçamos para que a vacina avance e que a segurança e o bem-estar de todos os brasileiros possam ser garantidos. Só assim haverá geração de emprego e renda no país.
*Professor Adjunto do Departamento de Economia e do Programa Acadêmico de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Sergipe e Coordenador do Laboratório de Economia Aplicada e Desenvolvimento Regional – LEADER.