O grande timoneiro do MDB sergipano

Afonso Nascimento
Professor de Direito da UFS

Recentemente falecido, José Carlos Mesquita Teixeira nasceu em Aracaju na segunda metade dos anos 1930 do século passado, mas foi registrado como natural de Itabaiana, terra de sua mãe e de seu pai. Sua mãe tinha o segundo grau e tocava piano, enquanto seu pai não conseguiu concluir o primário e foi mais um exemplo do self-made man da cidade serrana. Oviedo Teixeira foi um novo rico, muito rico integrante da burguesia comercial sergipana.

Enquanto criança e adolescente José Carlos Teixeira frequentou algumas das melhores escolas sergipanas e uma escola de elite de Salvador, o Colégio Marista. Voltou a Aracaju porque não se adaptou às regras da escola, à sua comida e ao fato de os diretores dessa tradicional instituição baiana não permitir que ele fizesse uso de seu piano. Em solo sergipano, concluiu o curso de técnico em Contabilidade. Bem mais tarde, ele fez curso superior em Ciências Contábeis e sua esposa estudou Pedagogia em Brasília.

José Carlos Teixeira foi um amante da música clássica, a música dos grandes mestres. Naturalmente, esse gosto veio da parte de sua mãe, pois o seu pai sempre foi um comerciante desde criança. Não tinha capital cultural desse tipo para lhe passar, mas lhe permitiu nascer como um menino rico. Aprendeu a tocar piano com sua mãe e com outros professores de Aracaju. Era elitista e não gostava de música popular. A sua paixão pela música clássica e pelas artes em geral fez dele um político diferente da maioria da classe política brasileira.

Foi um empresário ligado ao comércio de automóveis, segundo documento oficial da Câmara de Deputados. Em Brasília, tinha uma empresa gráfica que trabalhava para o Senado. Em razão disso, ocupou cargo importante no Sindicato das Indústrias Gráficas e foi diretor da Federação das Indústrias Gráficas de Brasília de 1974 a 1982. Todavia, a seu principal métier foi o de político profissional.

O seu interesse pela política veio de sua família. Seu pai gostava de política. O tio de seu pai, Antônio Oviedo Sobrinho, fez política em Itabaiana até os anos 1930. O seu tio Silva foi prefeito de Itabaiana e deputado estadual com vários mandatos e presidente da Assembleia Legislativa. Assim, nada mais natural que se envolvesse na política. Em sua trajetória, foi deputado federal por quatro vezes e pertenceu ao conservador PSD, depois ao MDB durante o regime e, por fim, ao PMDB. Ainda na política, foi prefeito biônico de Aracaju por sete meses, nomeado pelo político dos militares João Alves Filho, de quem também foi vice-governador. Ocupou outros postos políticos por indicação política como secretário de Estado da Cultura de João Alves Filho, a direção de captação da Caixa Econômica Federal e participou de diversos conselhos.

Nunca foi um político de esquerda, nem de centro esquerda, mas um liberal de boa linhagem. Enquanto político nunca foi incluído por ninguém na lista dos “autênticos” do MDB. O seu trabalho mais importante como político foi, a partir de 1966, fundar e presidir o MDB durante o regime militar sempre de forma firme e equilibrada e fez o mesmo com o PMDB em 1979. O MDB sergipano era uma frente heterogênea composta por alguns políticos de esquerda ligados ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), alguns liberais e uma porção deles que poderiam estar bem à vontade na ARENA, o partido da ditadura militar. Ulysses Guimarães foi uma espécie de José Carlos Teixeira sergipano para o Brasil. Foi o seu grande timoneiro.

Com o golpe militar de 1964, muitos sergipanos foram presos, no meio dos quais estavam comunistas e não-comunistas. Ele se lembra dos seguintes presos nas visitas de solidariedade que fez à “colina”: Alencarzinho, Vianna de Assis, os dois irmãos Maia de Propriá, Chico Varela, etc. A maioria dos presos por ele identificada fazia parte da cúpula do PCB em Sergipe.

De acordo com ele, muita gente foi presa injustamente. Entre as razões para isso, ele cita “problemas de ordem pessoal, despeito, mediocridade”. A duração das prisões no 28 BC variava dependendo do caso. Alguns ficavam poucos dias e em seguida eram libertados, enquanto outros lá permaneciam por mais tempo. José Carlos Teixeira ia visitar esses presos políticos ou na sexta-feira ou na segunda-feira. Nessa época era deputado federal pelo PSD. Para José Carlos Teixeira, as prisões de 1976 foram mais duras, ocasião em que, por conta de torturas, o militante comunista Milton Coelho perdeu a visão.

Segundo José Carlos Teixeira, as prisões de 1976 se deveram ao fato de pessoas tentarem reorganizar a sociedade depois do fracasso da luta armada e fazerem isso na clandestinidade. Essas pessoas pareciam ignorar que Sergipe era uma “terra de muro baixo, (onde) todo o mundo sabe quem é quem, o que faz e o que não faz”. O grande timoneiro do MDB é sempre lembrado por ter feito discurso na Câmara de Deputados denunciando tais prisões e torturas encabeçadas por militares da “linha dura” que não queriam o fim da ditadura.

Não terminaremos este pequeno texto sem destacar o importante papel de José Carlos Teixeira enquanto membro e presidente da Sociedade de Cultura Artística de Sergipe (SCAS). Essa instituição sem fins lucrativos tinha sido fundada pelo antropólogo Felte Bezerra e era dedicada à promoção das artes e da cultura em geral, numa sociedade que era um deserto cultural. Somente o trabalho desse homem de cultura à frente da SCAS merece um artigo em separado para registrar os seus esforços pessoais enquanto promotor cultural, juntamente com outras figuras como Bonifácio Fortes, Alberto Carvalho, Ivan Valença, Djaldino Mota Moreno, José Silvério Leite Fontes, entre outros. Além da SCAS, José Carlos Teixeira também foi fundador da Aliança Francesa de Aracaju.

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Texto construído a partir de entrevista inédita José Carlos Teixeira concedida em 2002 ao vice-reitor da Universidade Federal de Alagoas, José Vieira da Cruz, que gentilmente nos permitiu acessá-la.

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