Como os sergipanos tratam os seus idosos

Afonso Nascimento
Professor do Departamento de Direito da UFS

A palavra idoso vem de idade que, por sua vez, significa tempo de vida. Quem tem idade nesse sentido é velho, faz parte do grupo da “terceira idade”, um eufemismo para dizer velho sem dizer o nome. Eu já entrei nesse grupo de pessoas, composto geralmente por pessoas aposentadas, mas me sinto forte mentalmente e com muitos projetos para minha vida.

Como são tratados os idosos nas instituições sergipanas a que estão ligados? Acho que tratam mal, mas, antes de responder a essa pergunta, eu preciso dizer que vivemos em uma cultura que valoriza cada vez mais os mais novos, a novidade, a juventude. É verdade que a maioria de nós tem problemas em saber envelhecer. O avanço da Medicina nos dá a ilusão de que é possível não envelhecer, não tornar-se um idoso, porque não tem charme nenhum ser velho, ser coroa, ser idoso. Dois outros traços dessa cultura são o individualismo e o hedonismo, ou seja, cada um por si na busca cada vez mais intensa de todos os tipos de prazeres. Não é por acaso que muitos idosos vivem rindo à-toa graças ao uso de certos comprimidos azuis.

De um modo geral, a nossa sociedade não valoriza a experiência, o conhecimento acumulado por pessoas idosas ao longo das décadas de sua existência. O saber do idoso é ignorado. Aqui também o desenvolvimento científico e tecnológico rebaixa os saberes adquiridos em outros tempos pelas pessoas, pois é a novidade que interessa, que importa. Ao desvalorizar a experiência de vida e profissional dos idosos, o que eles têm para contar, eles são desvalorizados como um todo. O idoso se transforma assim em um peso, em um fardo e tende a viver uma vida de ociosidade.

O idoso é alguém com muito tempo livre, numa sociedade em que “tempo é dinheiro”, em que todos nós vivemos apressadamente. É por essa razão que os idosos que tiveram algum destaque social, intelectual ou político adoram dar entrevistas, falar sobre o seu passado. Dou um exemplo disso, ocorrido quando eu tinha menos idade. Lá estava eu conversando com esse idoso, preocupado que poderia estar tomando o seu tempo, quando ele me disse que não me preocupasse com isso, que ele tinha todo o tempo livre do mundo. Queria conversar, falar de seu passado, queria atenção. É exatamente isso o que o leitor pensou: os idosos, especialmente os viúvos ou solteiros, são um grupo de pessoas carentes.

Tenho a impressão que os
idosos das cidades do interior
de Sergipe são os menos felizes,
frequentemente mais depressivos”.

A despeito de algumas semelhanças entre idosos, é importante dizer que há uma diferença entre idosos das classes populares e idosos de classe média e alta. Os idosos das classes populares são de dois tipos: aqueles que não possuem nenhuma fonte de renda e os outros que ganham uma aposentadoria de salário mínimo ou uma pensão. São esses idosos juntos que contribuem para a persistência da família alargada sergipana. Eles vivem com a família de um filho ou de uma filha, podendo aí receber bons e maus tratamentos por parte dos familiares, que, via de regra, são os responsáveis pela administração do dinheiro de sua aposentadoria ou pensão. Não é incomum a existência de brigas familiares por causa desses míseros reais.

Os idosos de classe média e alta podem continuar a viver em sua casa ou apartamento, sendo assistidos por empregados domésticos, enfermeiras etc. Têm algum controle sobre suas vidas. Nos Estados Unidos e na Europa, muitos idosos alugam casas e apartamentos nos quais ficam hospedados, convivendo com outras pessoas de sua classe social em um mesmo espaço. Os idosos que são internados em asilos parecem ser os menos felizes. Podem receber visitas de parentes e amigos ou, caso extremo, podem ser abandonados. Quem tem tempo livre para passar com idosos?

Um espaço onde os idosos podem ser vistos com frequência são as igrejas. “Igreja é coisa de velho!” O leitor pode facilmente observar o grande número de idosos em missas e festas religiosas católicas. Depois ou antes das igrejas, os lugares mais frequentados pelos idosos são os postos de saúde, os consultórios médicos, os laboratórios e as farmácias. Isso é perfeitamente compreensível. Com efeito, com o passar dos anos e dos dias, as doenças aparecem e aí os idosos necessitam ser levados a esses locais. Quem geralmente serve de acompanhante? De um modo geral, são as mulheres ou as filhas solteiras.

Os idosos são indivíduos vulneráveis. Em lugares públicas, tem sempre alguém querendo passar na sua frente. Os bancos dizem que eles têm direito a tratamento prioritário, mas nem sempre isso é respeitado. Para complicar ainda mais a vida dos idosos, existem os ladrões que podem subtrair sua carteira ou sua bolsa na saída do banco. Ou mesmo dentro de banco quando idosos pedem ajuda para fazer alguma operação bancária.

Tenho a impressão que os idosos das cidades do interior de Sergipe são os menos felizes, frequentemente mais depressivos. Nesses espaços urbanos feios, sem economia, sem empregos, os nossos idosos estão ou diante uma televisão ou sentados em cadeiras sobre suas calçadas, deixando o tempo passar, fazendo tricô, botando conversa fora ou jogando damas ou baralho. Com frequência, essas pessoas também podem ser encontradas na praça da cidade. Retomando um pouco a algo a que me referi acima, os idosos daqui e de toda a parte têm um grande problema: o medo das quedas. Cair pode querer dizer muitas coisas (fragilidade, dependência, quebra de ossos, etc.), mas uma delas merece destaque: a perda da vontade de viver. Os idosos não podem deixar esse sentimento tomar conta deles!

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