Álvaro Vilela: O PCdoB no comando do DCE da UFS

Eugênio Nascimento

O encerramento do mandato dos ex-alunos de Direito Marcelo Déda Chagas (ele presidente licenciado) e Giselda Barreto (ela eleita vice e no exercício da Presidência) no Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Sergipe (UFS) impõe a perda do comando do DCE à tendência Atuação, à qual estavam vinculados,  e a chegada do grupamento Viração, que tinha alguns de seus membros ligados ao Partido Comunista do Brasil (PC do B). Atuação estava fragilizada com a saída de muitos de seus militantes do Movimento Estudantil para fundar o Partido dos Trabalhadores (PT).

O período de comando do DCE da UFS com maior presença política de Viração vai de 1982 a 1985, tendo como presidentes o baiano e estudante de Biologia Álvaro Vilela (hoje morando em Salvador/BA), o alagoano e estudante de Medicina Edvaldo Nogueira (atual prefeito da capital sergipana) e o também alagoano e estudante de Engenharia Química Carlos Cauê (atual secretário de Comunicação de Aracaju). Anos de intensa efervescência na política brasileira e da luta pela volta da democracia a um país que, de 1964 até 1985, era presidido por militares do Exército.

Em 1982, Álvaro Vilela assume a presidência do DCE. As bandeiras de luta no espaço universitário e que envolviam muitos estudantes eram eleições diretas para reitor, ensino público e gratuíto, mais ônibus ligando Aracaju ao Campus de São Cristóvão (Rosa Elze), mais livros para a Biblioteca Central, mais professores, mais servidores, melhoria da vigilância… No campo externo, a luta pelas diretas já era a que mais chamava a atenção da população..

Lembra Vilela: “Eu assumi a presidência do DCE em 1982. Nesse período a luta por Diretas Já estava colocada na ordem do dia. Sem dúvida, essa era uma bandeira de luta nacional que mobilizou os estudantes e o povo. Tínhamos outras bandeiras de luta nacional gerais no período em Viração comandou o DCE, a exemplo da Constituinte Livre e Soberana, luta em defesa dos direitos humanos e anistia, entre outras”.

Era um momento sensível na vida política brasileira. Os segmentos mais organizados e politizados se movimentavam nas ruas e praças e cobravam a volta da democracia ao país e os militares trabalharam um projeto de realizar eleições indiretas, via congressual. Essa campanha pelas diretas teve início em março de 1983 e terminou em abril de 1984, com a rejeição da emenda Dante de Oliveira.  Em janeiro de 1985 o mineiro Tancredo Neves é eleito presidente do Brasil no Colégio Eleitoral, adoece, morre e o seu vice, José Sarney assume a Presidência.

O DCE, Diretórios Acadêmicos e grupamentos outros de estudantes da UFS estavam muito envolvidos nas discussões sobre  a volta do direito popular de eleger o novo presidente do Brasil. O desejo de fazer alavancar a sua campanha trouxe o presidenciável da Arena, deputado federal Paulo Salim Maluf ex-governadior de São Paulo, a Aracaju (SE).  Aqui ele teve uma recepção inesquecível. 

Em novembro de 1984, Maluf decidiu fazer uma visita às lideranças políticas de Sergipe e chegou a ser vítima de agressões populares na praça Fausto Cardoso, nas proximidades do Palácio Olímpio Campos, em Aracaju. Foi vaiado,  sofreu empurrões e um estudante da UFS lhe acertou um ovo podre – alguns dizem que o ovo teria sido jogado por Fredão  e outros atribuem a mão certeira à Zé Carlos. Políticos de esquerda e estudantes da época costumam afirmar  ainda nos dias de hoje que a campanha presidencial de Maluf teve fim na capital sergipana, pois a partir daí, Maluf tornou-se cada vez mais impopular.

Carlos Cauê destaca que jogou a sua sandália contra Paulo Maluf, mas não sabe até hoje se o acertou ou não. “Tinha muita gente nesse ato e os estudantes demonstraram ter força”, diz. E acrescenta: no período de Viração no DCE, realizávamos muitos atos no Centro de Aracaju. Puxamos o povo para a luta em defesa da volta democracia”

Antes do caso Maluf, um outro momento marcante de atuação dos estudantes da UFS e do DCE foi no Dia Nacional de Protestos, em 25 de agosto de 1983. Alunos da UFS participavam, de passeata e quando chegaram na porta do Palácio Olímpio Campos (hoje museu-palácio) o governador João Alves Filho estava assinando um acordo com o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). Os estudantes direcionaram os protestos para o governador de Sergipe, o representante do BIRD  e a polícia reagiu contra os universitários.

O então secretário de Segurança Pública, Luiz  Bispo, também ex-reitor da UFS, e o comandante da polícia, Barreto Mota, tentaram impedir a manifestação. A força policial partiu para expulsar os estudantes da praça e o próprio secretário enfrentou Álvaro Vilela com o dedo em riste. Os alunos da UFS reagiram com vaias direcionadas a Luiz Bispo, Barreto Mota e demais policiais. Na época,  a imprensa registrou o fato como provocação policial. E foi.

Durante o episódio acima narrado, segundo Carlos Cauê, Edvaldo Nogueira pediu aos estudantes para sentar no chão e cantar o hino nacional brasileiro. A polícia, então, desistiu do enfrentamento.

Vilela lembra que “a nossa tendência não se fechou no Campus, foi para as ruas e não esqueceu de cumprir o seu papel para a melhoria das condições do espaço universitário. A luta pela redemocratização do Brasil era uma prioridade nacional e Viração esteve nela nas gestões minha, de Edvaldo Nogueira e Cauê.

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