Alexandre de Jesus dos Prazeres
Bacharel em Teologia, Mestre em Ciências da Religião e Doutor em Sociologia
Neste livro, Iná Camargo realiza uma excelente síntese sobre o tema. As noções sobre “marxismo cultural” podem ser identificadas em Adolph Hitler, “Mein Kampf”, denunciando o marxismo como parte de uma conspiração judaica para dominar a sociedade. Embora a expressão em si date do início da década 90, os primeiros a fazerem uso são protestantes fundamentalistas, ultraconservadores, e supremacistas, ou seja, a extrema direita estadunidense.
Para Hitler judaísmo e marxismo são simbióticos e combater um é o mesmo que combater o outro. Assim o programa de luta nazista contra judeus e comunista era: 1) a educação tem que se pautar pela meritocracia; 2) o Estado racista tem de combater o princípio marxista de que um homem é igual a outro; 3) é preciso selecionar os melhores do ponto de vista racial; 4) o princípio tem que ser aristocrático, expressamente contra democracia, porque esta é sintoma de decadência das nações.
A mesma tendência, em associar judeus e comunistas e os classificar como conspiradores, é retomada pela extrema direita nos EUA desde o início do século XX. Neste país, ocorreu o estabelecimento de uma intensa campanha anti-comunista que se travou preferencialmente no campo da indústria cultural. No pós-guerra, já em 1945, funda-se o “América First Party”, transformado em slogan de campanha por Trump. Em 1947, um planfeto, alertando sobre os perigos do comunismo, apresentava os pontos seguintes: 1) não caluniar o sistema de livre iniciativa; 2) não caluniar empresários; 3) não caluniar a riqueza; 4) não caluniar a busca do lucro; 5) não divinizar os pobres; 6) não glorificar a busca do coletivo. Estes princípios foram esboçados numa moção de preservação de ideais americanos e defendidos por representantes da indústria cultural como Walt Disney e outros.
A principal estratégia desde os nazistas sempre foi a do uso da propaganda para destruir a reputação de seus opositores. Difundir medos infundados é o lugar comum, o modus operandi nazi-fascista. Por isso para eles o Estado não pode permitir a liberdade de imprensa, pois a imprensa assim como as demais fontes de informação precisam estar a serviço dos propósitos nazistas. É um Estado totalitário, atua para falsear os fatos em nome dos ideais do nazi-fascismo.
Diante disto, se impõe a questão: Será que a semelhança com a indústria de fake news que difunde desinformação hoje é coincidência? Há claramente uma rede de influenciadores digitais que não somente lucram através da alimentação de uma guerra cultural anti-comunista, mas que são financiados por grupos de pessoas dentro e fora do Brasil com interesses nisto. Os canais por onde são propagadas as desinformações são redes sociais utilizadas como fontes exclusivas de busca de conteúdos pelos adeptos das ideias da extrema direita (sites, grupos no Telegram e Whatsapp, canais no YouTube e etc).. As demais fontes de informação são desacreditadas pelos criadores desses conconteúdos.
Imprensa, universidades, e intelectuais são atacados e caluniados, deslegitimados como formadores de opiniões confiáveis. Isto deixa as pessoas vulneráveis aos que patrocinam a criação de um ambiente de insegurança para as instituições do Estado Democrático de Direito.