Amâncio Cardoso
Professor de História do IFS
Todos sabemos que o Brasil é rico e diverso em monumentos naturais e culturais. A potencialidade do país é imensa para desenvolver o turismo, atraindo turistas nacionais e internacionais para conhecerem seus patrimônios.
Alguns desses patrimônios fazem parte, desde outubro de 2022, da publicação de um livro/catálogo que contém 16 (dezesseis) bens culturais reconhecidos no Brasil pela UNESCO, organização das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura, fundada em 1945 com objetivo de salvaguardar o patrimônio cultural da humanidade.
A obra intitulada “Patrimônios do Brasil” (Belo Hiorizonte-MG: Lucca, 2022. 191 p.) é uma edição bilíngue (português e inglês), de apenas 3.000 exemplares, coordenada por Silvana Terenzi Neuenschwander, pós-graduada em gestão cultural e realizada pela Secretaria Especial da Cultura, então vinculada ao Ministério do Turismo.
Patrimônios do Brasil é apresentado por Nestor Goulart Reis, um dos mais importantes estudiosos sobre patrimônio cultural no Brasil. Goulart Reis é arquiteto e professor catedrático da Universidade de São Paulo. Ele é considerado um dos principais nomes da história da arquitetura e do urbanismo no Brasil. Além disso, é autor de livros importantes para a área, como Imagens de Vilas e Cidades do Brasil Colonial, obra premiada pelo Instituto de Arquitetos do Brasil. Especializado em História e Teoria da Urbanização, do Urbanismo e da Arquitetura, atua principalmente nos seguintes temas: patrimônio, urbanização colonial e urbanização contemporânea.
A luxuosa publicação (papel couchê fosco, lombada costurada e capa dura) comemora os 50 anos (1972-2022) da Convenção do Patrimônio Mundial da UNESCO, que reconheceu 16 bens culturais no Brasil, a saber: Ouro Preto-MG; Olinda-PE; Missões Jesuíticas dos Guaranis-RS; Salvador-BA; Congonhas-MG; Brasília-DF; Serra da Capivara-PI; São Luís-MA; Diamantina-MG; Cidade de Goiás-GO; Praça São Francisco-SE; Rio de Janeiro-RJ; Conjunto da Pampulha-MG; Cais do Valongo-RJ; Complexo Paraty e Ilha Grande-RJ; e o Sítio Roberto Burle Marx.
Todos esses patrimônios culturais reconhecidos ganharam textos e fotografias de seus respectivos especialistas. Em Sergipe, a praça São Francisco teve como autor do texto Thiago Fragata e belas fotos de Adilson Andrade.
Thiago Fragata é o pseudônimo de José Thiago da Silva Filho, especialista em história cultural pela Universidade Federal de Sergipe. Ele foi coordenador da comissão pela candidatura da Praça São Francisco a patrimônio mundial, entre 2006 e 2010, além de ser coautor do dossiê para a mesma candidatura. Professor Thiago conhece a fundo a história de São Cristóvão-SE, sua cidade natal, e onde se localiza a praça patrimônio mundial, título conquistado em 2010.
Como se vê na lista dos patrimônios mundiais da UNESCO no Brasil, a praça São Francisco é o único bem sergipano chancelado. Basicamente, são três argumentos que lastrearam a vitoriosa campanha de 2010: 1- a hispanidade da praça; 2- a presença de uma arquitetura religiosa e civil de grande valor; 3- a praça foi e é cenário das manifestações oficiais e populares.
A praça sergipana foi eleita Patrimônio da Humanidade durante a 34ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO ocorrida em Brasília-DF, entre os dias 29 de julho e 03 de agosto de 2010. A “hispanidade” da praça se evidencia na fusão das influências das legislações e práticas urbanísticas espanholas e portuguesas na formação de núcleos urbanos coloniais.
Desse modo, a praça São Francisco é exemplo único, do período histórico conhecido como União Ibérica (1580-1640), quando Portugal e Espanha eram uma só Coroa, durante o reinado de Felipe II. Assim, a praça sancristovense “desvela na configuração urbana uma herança de aplicação de soluções hispânicas em território colonial português. Daí a excepcionalidade que assegurou o selo internacional”.
A obra aqui resenhada deve interessar a um grande público. Para aqueles estudiosos da arquitetura, urbanismo, turismo e meio ambiente, ela é uma publicação de referência. Como também serve para os amantes de história da arte e restauração de bens culturais.
Patrimônios do Brasil não é um livro apenas de registro de bens relevantes para o mundo. Ele também serve de ferramenta de apoio a projetos de educação patrimonial. Sobretudo num momento de nossa história em que Brasília, que está na lista da UNESCO no livro, foi depredada por uma pequena parcela de eleitores do ex-presidente Bolsonaro. De forma insana e criminosa, porque inconstitucional, eles investiram contra instalações e obras de arte do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto, no dia 08 de janeiro de 2023, pelo simples fato de não concordarem com os resultados de um pleito eleitoral auditado e legal.
Portanto, reconhecer o valor histórico e artístico desses e dos demais bens que pertencem ao Estado brasileiro, e que são símbolos de uma democracia em construção, não é um problema apenas patrimonial, senão um ato de natureza política em favor da humanidade.