Prof. Dr. Divaldo Pereira de Lyra Junior – Farmacêutico, Professor associado da Universidade Federal de Sergipe, Coordenador do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social/UFS, Docente do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde/UFS
MSc. Francielly Lima da Fonseca – Farmacêutica, Mestra em Ciências Farmacêuticas/UFS, Doutoranda em Ciências Farmacêuticas/UFS, Pesquisadora do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social/UFS
MSc. Fernando de Castro Araújo Neto – Farmacêutico, Mestre em Ciências Farmacêuticas/UFS, Doutorando em Ciências da Saúde /UFS, Pesquisador do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social/UFS
Lara Joana Santos Caxico Vieira – Discente de graduação em Farmácia/ UFS, Aluna de Iniciação científica do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Farmácia Social/UFS
Os medicamentos são insumos capazes de diagnosticar, prevenir, curar ou aliviar sintomas e ocupam papel fundamental nos modelos assistenciais, salvando vidas e recuperando a saúde. Desde o último século, os medicamentos representam a principal ferramenta terapêutica para recuperação ou manutenção das condições de saúde das pessoas. No entanto, é importante ressaltar que o acesso à assistência médica e à farmacoterapia não implica necessariamente em melhores condições de saúde ou qualidade de vida. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 50% da população não entende suas condições de saúde e tratamentos. Além disso, a OMS alerta para os problemas gerados pelos descuidos na prescrição, dispensação e uso de medicamentos que causam danos graves à saúde e óbito nos pacientes.
Ainda segundo a OMS: “o farmacêutico é o profissional mais próximo e disponível para orientar o paciente sobre o uso correto de medicamentos, esclarecendo dúvidas e facilitando a sucesso dos tratamentos prescritos”. Embora a importância do farmacêutico como última barreira para a utilização inadequada de medicamentos seja perceptível em todo mundo, a prevalência de problemas relacionados à farmacoterapia põe em xeque sua formação e execução de serviços de cuidado profissional diante das necessidades da sociedade. Assim, é preciso otimizar a formação para processos de trabalho mais efetivos, seguros e cômodos, adaptados aos serviços, farmácias e pacientes.
Em termos práticos, a falta de investimento na formação e na validação dos processos de trabalho do profissional nos serviços de saúde no Brasil, geram riscos frequente à população como aconteceu em 06/03/2023, quando um bebê de dois meses de vida faleceu pelo uso de um medicamento dispensado errado. A dispensação de medicamentos é um serviço clínico provido por farmacêuticos que visa garantir o acesso efetivo, seguro e cômodo adequado aos medicamentos e outros produtos para a saúde. Esse serviço deve considerar as necessidades de saúde do usuário, com a análise criteriosa da prescrição e, se necessário, intervenções para o uso racional dos medicamentos.
A literatura internacional apresenta benefícios da dispensação de medicamentos ao incentivar a autonomia dos pacientes na compreensão, uso correto e adesão ao tratamento medicamentoso. Por outro lado, estudos apontam que a entrega de medicamentos é, muitas vezes, realizada sem a avaliação correta das necessidades do paciente e sem a provisão suficiente de orientações farmacêuticas, com perceptíveis falhas na comunicação e no conhecimento técnico para prática. Dessa forma, o serviço farmacêutico e seu processo de trabalho devem focar na obtenção de resultados clínicos positivos para a saúde da população.
Diante disso, é preciso avaliar as necessidades dos pacientes por meio de perguntas apropriadas tanto para o alcance de resultados adequados quanto na prevenção de problemas como o que ocorreu com o bebê citado. Desta forma, algumas perguntas chaves devem ser usadas como suporte à orientação farmacêutica, minimizando possíveis problemas relacionados à dispensação de medicamentos, como:
- Esse medicamento é para você?
- Qual a idade do paciente?
- É a primeira vez que vai utilizar este medicamento?
- Sabe para que o prescritor prescreveu esse medicamento?
- Estamos finalizando a orientação, compreendeu as informações que te passei? A utilização de processos de trabalho protocolado e validados reforça a importância da qualificação do serviço de dispensação de medicamentos. Para isso, é essencial que farmacêuticos e farmácias compreendam e adotem tais processos de trabalho definidos, de modo a permitir a obtenção de informações necessárias para a tomada de decisões apropriadas e menos riscos de trocas de medicamentos, da concentração ou do uso diferente do que é preconizado pelo fabricante. Dentro dessa perspectiva, em todo e qualquer serviço de saúde “o evidente precisa ser dito”, isso porque, muitas vezes, o que é ‘evidente’ (algo fácil de entender, intuitivo, lógico) para profissionais da saúde, pode não ser para os pacientes. Alguns profissionais se utilizam de forma ríspida desta palavra para justificar pouca habilidade de comunicação ou sua inaptidão para realizar suas tarefas, afirmando que “isto é evidente”. Entretanto, na área da saúde, se eximir de orientar pode ser fatal.
Nesse cenário, é fundamental realizar treinamentos periódicos para as equipes das farmácias, bem como atualizar farmacêuticos por meio de cursos e especializações para direcionar um melhor processos de trabalho, com ênfase na orientação qualificada dos pacientes nos seus ambientes de trabalho. A assimilação desses processos proporciona maior repetibilidade e reprodutibilidade da prática positiva do cuidado ao paciente, reduzindo riscos associados à má explicação, informação incompleta e a ausência de orientação. Por fim a população deve exigir profissionais mais capacitados e disponíveis que forneçam orientações confiáveis e com rigor científico para garantir a segurança no seu tratamento.
COLUNA CIÊNCIA E SAÚDE – PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE – COLUNA 196
Editor: Prof. Dr. Ricardo Queiroz Gurgel
Coordenadora PPGCS: Prof. Dra. Tatiana Rodrigues de Moura