*Por Rogério Carvalho
Territorial e demograficamente a maior das 33 nações latino-americanas, o Brasil também é o mais admirado e economicamente o mais viável dos países da região. Para um povo que já foi visto como multifacetado, multiculturado, de variados superlativos e “exportador” de alegria, de futebol, Carnaval e de diversidades históricas, passar quatro anos esquecido, isolado e descartado política e socialmente pelas potências mundiais foi um atestado de absoluta incompetência assinado por um gestor que, em larga escala, contribuiu para que exacerbássemos um dos maiores complexos do brasileiro moderno: o de vira-lata, conforme definição do imortal Nelson Rodrigues. Passado o repente do cordelista que habitou recentemente o Palácio do Planalto, estamos de volta à ribalta.
Hoje, quase sete meses após a derrubada do muro da tirania, temos consciência de que nada deve ser resolvido com canetadas, bordunas, gritos e sem projetos de nação. Disposto a de fato construir um novo país, o presidente Luiz Inácio da Silva decidiu recuperar o diálogo do Brasil com os demais países do mundo. Sem abrir mão de nossa voz, e de nossas soberania, liberdade e importância geopolítica, Lula quer devolver ao povo brasileiro o protagonismo perdido em determinadas mesas de debates, notadamente naquelas em que se discute o meio ambiente. Por conta da Amazônia, a maior bacia hidrográfica da Terra e um celeiro de biodiversidade, somos considerados o pulmão do planeta.
Mesmo assim, estávamos escanteados em função do descaso do governo anterior, cujo maior feito foi ser reconhecido externamente como o terrivelmente decantador de florestas. Na companhia de autoridades do Ministério da Agricultura do Brasil, venho participando de importantes e proveitosos encontros com representantes dos governos da Índia, Coreia do Sul, Japão e países árabes. Nessas nações contribuí na busca de novas oportunidades econômicas para nossa sociedade produtiva. Além da receptividade à produção nacional, pude perceber o apreço internacional pelos brasileiros e a importância da cooperação mútua para que consigamos fortalecer o tão sonhado desenvolvimento socioambiental.
Em promissora reunião com formuladores de políticas e reguladores da indústria dos países que integram o grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do sul), trabalhamos nas propostas de ações conjuntas contra as mudanças climáticas, entre elas imediatas soluções na transição energética.
Paralelamente à ênfase na importância da bioenergia, compartilhei com os parceiros dos Brics a experiência brasileira e indiana com o uso do etanol no setor de transportes. Desafiador, o compromisso do governo Lula também é o meu como parlamentar: buscar parcerias para que, a curto e médio prazos, consigamos efetivar projetos objetivando um futuro mais sustentável para o Planeta. Para um público especializado e com preocupações comuns, na Índia posicionei o Brasil como grande difusor de experiências positivas no uso de biocombustíveis e em tecnologias de veículos flex e movidos a baterias.
Na Coreia do Sul, terceiro maior importador de carne bovina do mundo, obviamente que o foco foi destacar a pujança da agropecuária nacional, da bacia leiteira e da avicultura de Sergipe. Baseado no trabalho do presidente Lula, que é ampliar o mercado externo para os produtos agropecuários do Brasil, em Seul, Sejong e em Tóquio mantive encontros com autoridades do setor, às quais adiantei o desejo do governo brasileiro em fortalecer as parcerias comerciais com a Coreia e com o Japão, assim como assegurei aos sul-coreanos e japoneses a qualidade e a segurança dos produtos exportados pelo agronegócio e pela indústria nacional.
A orientação de Luiz Inácio para estreitarmos laços comerciais com o mundo não é apenas uma necessidade econômica. É claro que negócios rendem dividendos e dividendos são fundamentais para nosso crescimento. Como o maior desafio de nossos dias é crescer sem perder conquistas sociais, novamente ocupar papel de destaque em mesas mercantis significa esquecer de vez o tal complexo de vira-lata. Resumindo a ópera, estamos de volta ao futuro.
**Rogério Carvalho é senador por Sergipe e primeiro-secretário da Mesa Diretora do Senado