Governo de Sergipe inicia produção de catálogo internacional da renda irlandesa

O estado de Sergipe tem se destacado no Brasil e no mundo pela singularidade e potencialidade do seu artesanato que revela não somente as histórias, as culturas e as tradições de um povo, mas o trabalho de gerações que resultaram em um saber-fazer considerado Patrimônio Cultural do país. No mês da sergipanidade, o sentimento de pertencimento é intensificado pelo reconhecimento do menor estado brasileiro enquanto maior produtor mundial de renda irlandesa e com alto potencial para exportação, resultando na produção de um catálogo internacional por intermédio da Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem). 

A produção decorre das ações de incentivo do governo para exposição e comercialização do artesanato do estado. A exemplo das tratativas para promoção de intercâmbio comercial da renda irlandesa e visita diplomática do embaixador da Irlanda no Brasil a Sergipe; além da participação em feiras estaduais e nacionais. Foi, inclusive, durante a Rodada Internacional de Negócios promovida pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), durante a 5ª Feira Nacional de Artesanato e Cultura (Fenacce), ocorrida no Ceará, em Fortaleza, que o trabalho de rendeiras do estado ganhou ainda mais notoriedade aos olhares do mundo. 

Na ocasião, representantes do governo e rendeiras sergipanas no município de Divina Pastora estiveram entre os mais de 58 representantes do artesanato brasileiro dialogando com potenciais compradores de diversos países, entre eles a Irlanda, a China, os Estados Unidos, o Reino Unido, o Japão e a Áustria. Não faltaram elogios à técnica, à qualidade e ao valor histórico dos produtos.

Renda Irlandesa, Catálogo Internacional e sergipanidade

É no leste sergipano, no município de Divina Pastora, que a renda irlandesa ganhou sua Indicação Geográfica (IG) como resultado da qualidade técnica e material dos produtos confeccionados artesanalmente. Roupas, acessórios e toalhas de mesas são algumas das inúmeras produções feitas a partir desse tipo de artesanato. 

Para apresentar a renda dentro de um contexto mercadológico para outros países, está sendo produzido um catálogo com fotos e detalhes dos produtos, desde a indicação de medidas aos termos técnicos e etapas de produção. Segundo a designer e professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Germana de Araújo, responsável pelo material, o contato direto com o local e as rendeiras facilita o processo de construção para que a produção visual do catálogo também aborde um viés mais humano, ressaltando a história e a singularidade por trás do trabalho artesanal produzido há séculos. Mais de 500 fotos já foram produzidas durante visita às associações de rendeiras existentes no município e as peças também passarão por uma curadoria.

“Isso é muito importante para que no catálogo possa gerar uma maneira lógica de apresentar este produto com relação ao tempo de produção e ao valor simbólico do desenho… Trabalhar com a arte dessas mulheres é tão encantador, tão incrível… é muita responsabilidade”, aponta Germana.

De acordo com a presidente da Associação das Rendeiras Independentes de Divina Pastora (Asdrin), Neidiele Silva, a renda irlandesa tem transformado a vida de mais de 250 mulheres sergipanas, divina-pastorenses, que confeccionam seus produtos no município. “A gente, hoje, está colhendo frutos que as gerações passadas plantaram e a gente precisa continuar plantando para que as gerações futuras colham… O caminho não foi fácil e, assim, nos orgulha, nos fortifica saber que, em conjunto, estamos fazendo isso. A tão sonhada exportação está chegando, está batendo na porta e, agora, a gente está unindo esforços para atender da melhor forma possível mostrando a nossa qualidade, a nossa identidade. Isso é muito gratificante!”, afirma. 

É a partir desse movimento de reconhecimento e de realização que o sentimento da sergipanidade floresce e se intensifica. Embora a renda irlandesa tenha chegado ao estado por meio de missionárias irlandesas, são mãos sergipanas que dão vida e continuidade ao artesanato que transforma realidades há mais de um século.

“É o nosso saber-fazer que conquistou o mundo, né? É o esforço de várias mulheres que, diariamente, se esforçam para isso. Então, a gente só luta. É uma luta contínua, na verdade. Uma luta contínua de gerações, porque as mulheres decidiam: ou ir pra cana de açúcar ou aprender a fazer renda irlandesa. Então, não tinha opção na época. Das duas, uma. E elas aprenderam amar e se apaixonar pela renda”, conta Neidiele sobre o artesanato que se perdeu na Irlanda, país de origem, mas se fortalece e se desenvolve a cada dia em Sergipe. 

Quem também compartilha do sentimento de pertencimento é a vice-presidente da  Associação para o Desenvolvimento de Renda de Divina Pastora (Asderen), Maria José Souza. “Como rendeira, é um orgulho, porque a gente tem uma tradição de mais de 200 anos. Isso vem da minha avó, da minha bisavó, passou pela minha mãe, está em mim… Então, pra mim, é um orgulho saber que uma cidade tão pequenininha como Divina Pastora, em um estado tão pequenininho como Sergipe, tem uma riqueza inestimável. O que eu faço, o que o nosso estado faz, ninguém mais faz”, ressalta.

Fonte: ASN
Foto: Jhennifer Laruska

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