Antônio Carlos Sobral Sousa – Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação
Estamos prestes a celebrar quatro anos da decretação da pandemia da Covid-19 por parte da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o ardiloso SARS-Cov-2 continua fazendo vítimas, sobretudo nos grupos de idosos, de imunodeprimidos e de não vacinados. Obviamente a virose se tornou mais comum, sendo difícil encontrar alguém que não foi acometido, pelo menos uma vez. Por outro lado, para nossa sorte, a doença tem sido menos grave. Provavelmente os casos de Covid-19 tenderão a aumentar nos períodos mais frios e após grandes aglomerações decorrentes de festas populares, como ocorrem com outras infecções virais respiratórias. Infelizmente, na visão dos especialistas, o “Novo Coronavírus” (esta alcunha já não é mais adequada) nunca vai desaparecer e sim, sofrer um processo de “endemicização”, que envolve tolerar um certo número de infecções, com surtos ocasionais em nível comunitário, sem, contudo, saturar os serviços de emergência.
A pandemia protagonizada pelo SARS-Cov-2, mediante suas sucessivas ondas, devastou a população mundo a fora, causando inúmeras mortes e um número ainda maior de hospitalizações ou casos da síndrome pós-Covid-19 (também referida coloquialmente como Covid longa). Todavia, as lembranças mais dolorosas são as perdas desnecessárias de vidas. Mesmo depois de as vacinas de RNA mensageiro se terem tornado amplamente disponíveis na primavera de 2021, as mortes pela referida virose continuaram a aumentar devido à recusa em larga escala da vacina, favorecida pelas insistentes ações de negacionistas que inundaram as redes sociais com informações oriundas de pseudocientistas, deixando muitos cidadãos e cidadãs confusos (as) e hesitantes em receberem o imunizante. Uma estimativa americana concluiu que entre o final de maio de 2021 e o início de setembro de 2022, mais de 200.000 mortes poderiam ter sido evitadas nos Estados Unidos, se esses adultos tivessem sido vacinados com uma série primária. Pelo menos três outras análises chegaram a estimativas semelhantes para as mortes entre não vacinados, na terra do Tio Sam, durante as ondas provocadas pelas variantes Delta e Ômicron BA.1, respectivamente em 2021 e 2022.
A infodemia de informações não confiáveis desqualificando as vacinas, continuam, sobretudo, creditando aos imunizantes as mortes súbitas que ocorrem, corriqueiramente, entre jovens. A propósito, no apagar das luzes do ano pretérito, foi publicado no conceituado periódico científico, Circulation (DOI: 10.1161/CIRCULATIONAHA.123.066270), um artigo, cujo principal objetivo foi o de comparar as taxas de morte súbitas e de mortes atribuíveis a miocardites em jovens de 1 a 40 anos de idade, residentes na região de Veneto (nordeste da Itália), em períodos definidos: precedendo a peste; no início da pandemia, antes da disponibilidade de vacinas e durante a imunização. Os dados foram coletados entre janeiro de 2018 e dezembro de 2022 e os autores concluíram que não houve aumento das taxas de morte súbita e de miocardites entre jovens, tanto durante a pandemia, como após a introdução da vacinação contra a Covid-19.
Em um podcast, recentemente publicado no icônico N Engl J Med (DOI: 10.1056/NEJMp2311327), Dr. Paul Sax, diretor da Divisão de Doenças Infecciosas do Brigham and Women’s Hospital, em Boston, Massachusetts, EUA, enfatizou que devem receber a dose de reforço atualmente disponível, os indivíduos vulneráveis, os idosos e os portadores de comorbidades.
Finalizo, citando o polímata indiano, Rabindranath Tagore: “O homem que planta árvores, sabendo que nunca se sentará à sombra delas, começou a entender o significado da vida”.