Luiz Eduardo Oliveira – Doutorando em Saúde e Ambiente
Há uma necessidade extremada, em nossa sociedade, pela escolha de um partido, de uma bandeira e ou de uma ideologia. Perdidos estamos diante dos fatos, do nossos valores e de nossas certezas. As instituições destinadas a prover os meios de acesso ao futuro, sucumbiram diante do nada. Houve um tempo que ouvíamos atentos aos conselhos de nossos pais ou dos “mais velhos” sobre profissões, empregos, partidos políticos, políticos, homens e mulheres de reputações ilibadas…blá, blá, blá. Ouvíamos e, mesmo discordando, seguíamos na busca por nossa “tranquilidade”.
Estamos naquele futuro, com mentes arcaicas e com um presente comprometido. Precisamos retirar forças diante desse caos e o que encontramos são crises, política, institucional e de saúde. Poderíamos acrescentar, sem adjetivar, as crises de segurança pública, educacional, religiosa e outras. Em meio a tantas crises, o que poderá salvar a nossa geração? Senso de coerência.
Muitos fatos veem à tona e se expõem de tal forma que já não encontramos o Messias que tantos acreditam estar próximo a retornar para o arrebatamento da igreja. As grandes tribulações profetizadas no evangelho e descritas nos vinte e dois capítulos do Apocalipse estão apavorando mas não amenizando ou quebrantando os homens e mulheres de Aracaju. O que constatamos, diariamente, presencialmente ou em redes sociais é a vontade de estar certo, de exercer sobre o outro o poder do convencimento, de mando. Em cima dessas bases estamos atravessando mais uma crise. No Brasil agravada pela briga do poder. Qual o poder que pode mais?
Sem adentrar em cearas religiosas, cada vez mais compartimentadas, poderíamos sobreviver a esta crise caso tivéssemos um olhar solidário, reflexivo e empático. Difícil, bastante complexo e fluido para citar o filósofo e sociólogo Zygmunt Bauman, porém optamos pela teoria da simplicidade onde qualquer fato ou atitude é de direita ou de esquerda, do bem ou do mal. Mesmo que tenhamos claro as diversidades onde aparentemente poderíamos encontrar outra alternativa possível, insistimos na luta dos certos contra os errados e mantemos nossa mente binária sem qualquer chance de modificação, mesmo diante de um vírus.
Precisamos agir aqui, em Aracaju. O problema do enfrentamento é nosso. Por onde andam as instituições? Os poderes constituídos? A sociedade? Só servimos, cidadãos, para o confinamento? Não é hora de refletirmos sobre as condições de saúde, de educação, de segurança pública? Os temas não são excludentes e se agora enfrentamos um vírus, COVID-19, precisamos, concomitantemente, enfrentar as questões de violência em suas várias modalidades, inclusive a institucional.
Não podemos compreender um Estado sem projeto de futuro, projeto de Estado onde as atividades de saúde, segurança pública e de educação não sejam vistas com o mesmo respeito dedicado a outras questões sociais. Não podemos, aqui em Sergipe, ser cúmplices de tamanhas anomalias no tratamento com o servidor público, seja ele do Judiciário, do Legislativo ou do Executivo. Observar profissionais de saúde, educação e segurança sendo tratados como se fossem inferiores intelectualmente é não conhecer o passado e não se preparar para o futuro. Há anos ouvimos que saúde, educação e segurança pública são essenciais ao funcionamento do Leviatã. Em Sergipe e mais especificamente em Aracaju estes argumentos não prosperaram, como não prospera a nossa sociedade. Continuamos pobres, analfabetos e sem perspectivas. Nem a “cultura” consegue sensibilizar os gestores.
Poderemos e devemos extrair deste vírus o lado positivo pois este veio para escancarar a coxia. Se é verdade que temos instituições e poderes que zelam pelo Estado Democrático de Direito devemos, necessariamente, respeitar os demais servidores públicos. Escolas públicas não se parecem com os Palácios de Justiça. Delegacias de Polícias não são estruturadas e servidas como as salas do Ministério Público. Unidades Básicas de Saúde, sejam elas na modalidade de UPA, CEM ou CEO, estão a anos luz das sedes dos Tribunais de Conta. Poderemos analisar as diferenças nas modalidades de infraestrutura ou de remuneração.
Por certo que não podemos nivelar por baixo, mas o Estado é uno e se o dividimos em poderes e instituições é no sentido de, movidos pela unidade, empreendermos esforços conjuntos.
O vírus não pode, somente, expor os profissionais que estão na linha de frente no combate, ao apoio midiático. Compreender um Estado falido ou pré falido como anunciado há algum tempo não serviu para modificar qualquer situação quanto ao tratamento entre servidores públicos e nem com relação aos serviços prestados ao público.
Há quantos anos sem o hospital de câncer? Há quantos anos sem a duplicação da BR-101? Há quantos anos sem um hospital de urgência e emergência novo, aparelhado e com equipes de saúde treinadas e valorizadas? Há quantos anos os profissionais da educação estão lutando por um piso enquanto outras categorias lutam para extrapolar o teto constitucional? Há quanto tempo que os profissionais da segurança pública reivindicam condições de trabalho? Há quanto tempo que nossos artistas imploram por trabalho enquanto o Estado e a prefeitura contratam bandas e artistas e outros cantos?
Não permita Deus que voltemos à normalidade pois aquele “normal” era assimétrico.
Sergipe, além de muitas coisas, é cultura, disso não há dúvida, mas é mais, muito mais, que o país do forró.