“Líderes na Escola: o que fazem bons diretores e diretoras, e como os melhores sistemas educacionais do mundo os selecionam, formam e apoiam”

Manuel Alves do Prado Neto – Professor de História da Rede Estadual de Educação

No último mês de junho a Fundação Santillana e a Editora Moderna presentearam o Brasil publicando, numa versão digital, o livro Líderes na escola: o que fazem bons diretores e diretoras, e como os melhores sistemas educacionais do mundo os selecionam, formam e apoiam, de autoria do jornalista carioca Antônio Góis. Colunista do O Globo, Góis, desde 1996, se ocupa da questão educacional. É também comentarista da TV Futura. Em novembro de 2018, ele protagonizou o conceituado programa “Café Filosófico” no qual, por cerca de 50 minutos, trouxe a público um conjunto de “problemas” da educação do Brasil – problema no sentido, sobretudo, de objeto de reflexão – com originalidade, didatismo e embasamento teórico, como poucas vezes vistos no metiê educacional. O programa, que está disponível na internet, traz como título: superar mitos e colecionar aprendizados.

Com prefácio de André Lázaro, ex secretário do Ministério da Educação e atual diretor de Políticas Públicas da Fundação Santillana, o livro está dividido em duas partes. A primeira, intitulada Pelo mundo está subdividida em dez capítulos. A segunda parte, nomeada Síntese traz mais três capítulos e a conclusão. O livro é finalizado com os agradecimentos. Com um texto leve, comum entre os bons jornalistas, Antônio Góis passeia com as experiências de gestores escolares do Brasil, Chile, México, Estados Unidos e Canadá, que obtiveram sucesso em suas empreitadas, as quais resultaram na melhoria do desempenho da comunidade nos mais variados aspectos, especialmente quanto ao “clima escolar” e a aprendizagem dos estudantes.

Ele constrói um circuito com idas e vindas lastreado pelas mais recentes pesquisas realizadas nos EUA, Canadá e Europa, e dialoga também com estudos brasileiros e latinoamericanos acerca da importância da liderança do diretor e da diretora escolar para a construção de um ambiente escolar propício à aprendizagem. O papel que cumpre a liderança do diretor e da diretora escolar no desempenho dos estudantes é, na percepção desse leitor, o objeto central do livro.

Ao visitar e dialogar com esses diretores e diretoras nos cinco países, conhecer suas escolas, conversar com pais e estudantes, observar o “clima” dos ambientes nos quais eles atuam, os contextos sociais nos quais as escolas se encontram inseridas, o jornalista carioca constrói um roteiro que a todo tempo é atravessado pelas falas dos protagonistas educacionais e pelos estudos os mais diversos que vão sustentando as afirmações dispostas pelos parágrafos. Sua arte se faz para, segundo ele, ampliar o foco [das pesquisas], partindo de uma reflexão sobre o que [diretores e diretoras de escolas bem-sucedidas] fazem para chegar, no fim, a uma abordagem mais ampla a respeito de como sistemas educacionais podem criar melhores condições para que esses profissionais sejam bem-sucedidos.

Passados quase três meses dessa publicação, o Brasil conheceu os resultados da sétima edição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica/IDEB e se deparou, mais uma vez, com números que representam avanços tímidos e em vários cantos estagnações trágicas, denotando o preocupante quadro da educação básica do país. As reflexões trazidas por Antônio Góis, no livro objeto desta apreciação, nos ajuda a problematizar os caminhos – ou a ausência deles – percorridos na execução das políticas públicas de educação no país e nos possibilita debater a própria eficácia do Sistema Nacional de Avaliação, quanto ao seu papel de impulsionador das melhorias dos níveis de aprendizagem nas escolas e redes.

Várias vezes Góis nos lembra que os avanços de aprendizagem mais consistentes e consolidados ocorreram em escolas ou sistemas que não estavam focados no avanço imediato dos resultados de testes, sem preocupação com sua sustentabilidade. E citando resultados de pesquisas, traz afirmativas como: políticas de responsabilidades baseadas em testes podem não apenas produzir uma ilusão de melhoria, mas também comprometer seu futuro. Em hipótese alguma o autor se coloca contra um sistema nacional de avaliação ou mesmo contra as provas do sistema, mas mostra-se convicto, na crítica que sobressai, em relação às políticas que tem limites nos testes.

No segundo capítulo, efeitos de uma boa liderança, o autor afirma, citando outro estudo, que não há registro de um único caso de transformação positiva na escola na ausência de liderança talentosa.

Partindo dessa premissa, o livro trará uma série de documentos que elevaram, ao nível de política pública, a tarefa de identificar, formar e apoiar a liderança escolar. Nesses documentos estão delineados os traços de personalidades, as características de perfil comuns aos diretores e diretoras que podem ser chamados de líderes escolares. Enquanto o Brasil e o México permanecem reféns dos talentos individuais, que num canto e noutro surgem e fazem a diferença, em Nova Iorque, Canadá e Chile selecionar professores para ocupar a posição de diretor escolar, oferecer formação inicial e permanente e apoio para sua atuação tornaram-se políticas das Secretarias de Educação e em alguns casos, dos governos. É o que nos diz o texto.

Por tudo que afirma, pelo equilíbrio entre a verticalidade e horizontalidade com que trata todos os temas relacionados ao sucesso escolar, o livro Líderes na Escola é de leitura obrigatória para todos os trabalhadores da educação, sobretudo, para os que atuam na gestão escolar. Ele é muito mais que isso, em razão da sua riqueza de dados e do embasamento em variadas pesquisas, mas uma diretora ou diretor escolar pode dar a ele a função de protocolo, de cartilha. Lido com o devido cuidado, ele se constitui num instrumento para balizar a atuação, para construir mesmo, um projeto de gestão escolar de sucesso.Sergipe tem mais dois motivos para se debruçar sobre esse texto. Antônio Góis é quase um filho da terra. É de casa. Seu pai, Ancelmo Góis, conceituado nome do jornalismo brasileiro, também colunista do O Globo, é sergipaníssimo. Irmãos, sobrinhos, primos, tios e tias estão para ambos na cidade dos papagaios, no país o forró. O segundo motivo para a leitura está longe do apelo afetivo do primeiro. Os números da educação básica nas redes do estado estão entre medíocres e trágicos. Que bom que Antônio Góis é quase daqui. Que bom que veio dele esse qualificado presente para nos ajudar a pensar a educação brasileira e sergipana.

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