*José Firmo dos Santos
Integrante do Fórum em Defesa da Grande Aracaju
Sem sombras de dúvidas a região mais falada, mais cobiçada, mais disputada nas últimas décadas, em Aracaju – para não dizer em Sergipe – é a Zona de Expansão Urbana.
Aliás, cumpre deixar claro que a citada área com o nome Zona de Expansão já não existe mais desde o dia 24 de março de 2021, quando foi publicada no Diário Oficial do Município a Lei Municipal 5.373, transformando a Zona de Expansão em seis bairros. Mas, como a apresentação e a aprovação do Projeto de Lei estavam eivadas de ilegalidades, na prática, continua sendo Zona de Expansão.
Voltando ao que nos preocupa mais do que nomes, é nítido o debate em torno da Zona de Expansão Urbana de Aracaju (Robalo, São José, Gameleira, Areia Branca e Mosqueiro). Em quase todas as esferas de todos os poderes, de uma forma ou de outra, se fala sobre a Zona de Expansão.
Mas, afinal, a Zona de Expansão é mais importante do que os viventes que aqui estão? Claro que não!
Embora todos saibam que a Zona de Expansão, enquanto uma porção geográfica da cidade, não tem sentido sem os seres que aqui vivem (e cito os seres no sentido mais amplo, incluindo, além dos humanos, a flora e a fauna), o que a experiência e a prática das últimas décadas demonstram é que a Zona de Expansão de Aracaju é tratada como um objeto, como se fosse uma joia, um tesouro, uma mina de metais preciosos, pertencente e para o deleite exclusivo de uma pequena parcela de pessoas.
É como se uma força invisível encarnasse em determinadas autoridades ou em determinados atores, de forma a levá-los a fazer pela e com a Zona de Expansão exatamente o que ela (a força invisível) não pode ou não quer fazer diretamente.
Paradoxalmente, aos nossos olhos (olhos de nós pobres desses povoados), sempre existiu a tal da força invisível, manipulando alguns atores no trato da Zona de Expansão. E a impressão que temos é que nós, os pobres, que ainda somos a maioria e somos também a parte mais frágil dos moradores, não somos vistos, não somos notados, nem somos levamos em conta por aquela força invisível e poderosa, que manipula as ditas autoridades de plantão.
Só para citar os fatos mais recentes, é como se a força invisível e poderosa ordenasse às autoridades de plantão: “construa uma ponte de mais de 50 milhões sobre o Rio Vaza Barris!“ “Construa uma Orla Por do Sol!” “Passe a Zona de Expansão de Aracaju para São Cristóvão!” “Agora passe de São Cristóvão para Aracaju!” “Transforme a Zona de Expansão em bairros!” “Contraia altos empréstimos para a Zona de Expansão, mas somente para drenar as lagoas, para esgotamento sanitário e para sistema viário.” “Recupere as rodovias estaduais da Zona de Expansão, mas somente a que beira as praias e a parte inicial e duplicada da que não beira as praias!”, “Construa calçadões, equipamentos de lazer, mas somente na beira da praia!”, “Esqueça o Plano Diretor! Para que revisão?”
Bem que as autoridades manipuladas poderiam ao menos perguntar à força poderosa e invisível: “posso construir mais alguma Unidade Básica de Saúde na Zona de Expansão?” “Posso construir mais alguma sala de aula?”, “Como não existe nenhuma creche para esses miseráveis, posso construir alguma?”, “Como não existe nem mesmo uma praça em todos os povoados, eu posso construir alguma?”, “E as linhas de ônibus, que tem locais cujo intervalo entre viagens beira as três horas, posso dar uma melhorada?”, “Posso passar a patrol e colocar piçarra de qualidade nas estradas?”, “Posso ampliar a coleta de lixo, para que o caminhão chegue em todas as áreas?”, “Posso construir um cemitério de verdade?” “Posso colocar iluminação pública em todas as vias públicas?”, “Posso construir ao menos um CRAS?” “Já que eu não posso recuperar, nem sinalizar e nem proporcionar segurança na rodovia estadual que serve os povoados, posso ao menos drenar as águas das chuvas que ficam estagnadas na pista de rolamento e nos acostamentos?” Que nada! As tais autoridades manipuladas sequer ousam perguntar à poderosa força invisível se pode destinar alguma migalha para nós, o povo pobre da região.
Pelo contrário: a força poderosa e invisível, determina que as manipuladas autoridades negligenciem, neguem, se omitam no atendimento de todos esses itens ou que, no máximo, finjam que atendem, ou seja, atendam como sempre fizeram, à conta-gotas.
Atender minimamente com dignidade a nós pobres da Zona de Expansão, na visão da força poderosa e invisível, vai nos fazer gostar, vai nos fazer querer ficar mais tempo por aqui. E mais do que isso, pode nos fazer querer cobrar um pouco mais caro pelo chão que ocupamos.
As manipuladas autoridades, por sua vez, hipnotizadas pela força invisível e poderosa, não só nos deixam à mingua no cotidiano, como nos diz que os investimentos feitos para atender as tais forças são para nós.
Em suma, a Zona de Expansão Urbana de Aracaju, assim como qualquer outra área de qualquer outra cidade, não é nada sem o seu principal elemento: as pessoas, as vidas, os seres vivos. Qualquer agente público, seja ele eleito ou concursado, deveria se envergonhar por se deixar ser manipulado para “castigar” o povo pobre da Zona de Expansão.
Não dá para teorizar que trabalha pela vida, que cuida das pessoas e que promove o bem-estar social, negando e negligenciando os serviços e os equipamentos básicos.
Que as “grandes” obras, feitas para atender aos interesses da força invisível e manipuladora, por tabela, podem servir também a nós, isso lá é verdade. Mas, como negar o básico, o essencial, ao longo de décadas e gastar tanto com aquilo que não é urgente para a maioria?
As autoridades de plantão, seja na Prefeitura de Aracaju, seja na Câmara de Vereadores, seja no Governo do Estado, seja na Assembleia Legislativa deveriam saber (até acho que sabem), que nós pobres precisamos e queremos mais do que grandes obras. Queremos o básico. Queremos linhas de ônibus decentes. Queremos abrigos nos pontos de ônibus. Queremos mais unidades de saúde. Queremos mais salas de aula. Queremos as primeiras creches. Queremos as primeiras praças, os primeiros campos de futebol, as primeiras salas de teatro (por que não?). Queremos incentivo à nossa cultura. Queremos cobertura da coleta de lixo e da iluminação pública. Queremos que também os trechos das rodovias que servem aos nossos povoados sejam recuperados.
Como se pode ver parece que estamos pedindo muito pouco, mas é isso que nos negam há décadas.
O povo pobre, a flora, a fauna e as riquezas naturais da Zona de Expansão, aos olhos de determinadas autoridades, parecem não existir e enquanto a tal força invisível e poderosa mandar nos gabinetes e nas autoridades manipuladas, assim permanecerá.
*Morador da Zona de Expansão