Afonso Nascimento
Professor de Direito da UFS
A maçonaria é uma instituição que aparece entre as ditas “sociedades secretas” brasileiras. A sua existência provoca a curiosidade das pessoas e é essa natureza “secreta” que faz o sucesso de revistas e livros que se dedicam ao assunto. Em tempos de internet, sítios, blogues etc., muita informação pode ser encontrada sobre as lojas maçônicas, membros, ritos, e símbolos. Alguma coisa tem mudado, portanto. Ainda assim, há muito a conhecer sobre os maçons.
Na internet, muito do que pode ser encontrado sobre a maçonaria brasileira diz respeito mais ao passado. Em relação ao Brasil, fala-se de seu papel importante no século XIX e em seguida está disponível enorme quantidade de presidentes brasileiros da primeira república. De acordo com nossa leitura da atuação dos maçons, o número de maçons com destaque na história brasileira recente é muito reduzido. Isso não impede, porém, do crescimento de lojas maçônicas pelo país.
No que diz à maçonaria sergipana, ela foi fundada logo após a transferência da capital sergipana de São Cristóvão para Aracaju, no século XIX. À diferença de estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais que deram vários maçons presidentes ao Brasil, a maçonaria sergipana parece um tanto acanhada. Por que assim? Voltaremos a isso adiante.
Hoje, os maçons sergipanos estão distribuídos em onze lojas. O grupo mais antigo e tradicional é aquele da Loja Cotinguiba. Segundo pessoas por nós entrevistadas, o seu número giraria em torno de trezentos indivíduos. Somado ao das outras lojas, a população de maçons de sergipanos chegaria, aparentemente, perto de oitocentos. Se isso for verdade, trata-se de um grupo importante.
Além disso, se levarmos em conta que Sergipe é uma sociedade pequena (tem pouco mais de dois milhões de habitantes) e que existem lojas em todas as vinte e vinte unidades políticas brasileiras, esses números poderiam chegar, arriscaríamos a dizer, a perto de um milhão ou mais. Os maçons constituiriam um dos grupos de elites brasileiras mais tradicionais e duradouros do Brasil e que, nessa condição, foram pouco estudados.
Em suas diversas formas institucionais, a maçonaria sergipana é uma instituição filantrópica. Não tem, portanto, fins lucrativos. Mas não nos parece que as suas realizações filantrópicas sejam suficientemente divulgadas. Isso é de propósito? Não sabemos dizer. Fala-se em ações junto a asilos e ações educacionais. São desconhecidos os impactos dessas ações, conhecidas e desconhecidas, sobre a sociedade sergipana.
A maçonaria existe em Aracaju e em algumas cidades do interior de Sergipe. É uma instituição machista. Só homens dela fazem parte. O ingresso de pessoas na maçonaria toma duas formas: indivíduos podem ser convidados por maçons ou então procuram maçons e mostram o seu desejo de se tornar maçom. Depois disso, o seu currículo é avaliado levando-se em conta três requisitos: moral, econômico e cultural.
O requisito econômico é o mais mencionado pelas pessoas que não são maçons. Acham que só entram ricos ou então que entram no grupo para ficar ricos. Pelo que ouvimos de diversos maçons, é verdade que não há recrutamento de pobres, mas pessoas de classe média para cima. Membros da maçonaria melhoram sua condição social e financeira enquanto fazem parte da instituição? Parece que sim, mas fica difícil dizer que peso teve esse pertencimento institucional. Os integrantes da maçonaria pagam uma mensalidade enquanto sócios.
Além de ser uma instituição filantrópica, a maçonaria é também uma instituição de mútua ajuda entre seus membros. Segundo se fala, membros da maçonaria ajudariam uns aos outros a realizar objetivos ativando seus contatos na máquina político-administrativa. Voltemos um pouco à história da maçonaria em Sergipe.
Estamos entre aqueles que gostariam saber um pouco da participação da maçonaria nos grandes eventos da história política, econômica e cultural de Sergipe. Que envolvimento teve a maçonaria – a favor ou contra, individual ou coletivamente – em relação à emancipação dos trabalhadores escravos, ao fim do Império e à implantação da República, ao tenentismo, à Revolução de 1930 e à ditadura dos tenentes, à ditadura militar e à volta do regime democrático em Sergipe? Em outras palavras, quais posições tomadas pelos maçons em relação aos eventos referidos?
É do conhecimento público que a ditadura dos tenentes fechou e depois reabriu a maçonaria sergipana. Sabe-se que maçonaria se alinhou com a ditadura militar. Que ditadura no mundo não interferiria numa associação legal mas secreta, sem saber se os membros desse grupo são seus aliados? No caso brasileiro, fala-se que Golbery do Couto e Silva era maçom, além de diversos generais. Diz-se que, quando o general Costa e Silva esteve em Aracaju, deu atenção especial aos maçons que faziam parte da comitiva que o aguardava no aeroporto Santa Maria.
Segundo nos relataram, não haveria histórias de tensões ou de conflitos entre a Igreja Católica e a Maçonaria em Sergipe. Será? Para provar isso, cita-se a fazenda comprada por Dom Luciano Duarte e pela Maçonaria, com a intenção de fazer “reforma agrária” em Sergipe. Em relação aos comunistas, ouvimos que os maçons nunca aceitaram qualquer aproximação.
Quem têm sido os maçons sergipanos? Qual tem sido a composição profissional dos maçons sergipanos? Ouvimos duas versões. A primeira sustenta que é muito grande o número de maçons bacharéis em Direito. A outra afirma que os médicos competem com os bacharéis em termos numéricos. Além desses dois grupos, existem muitos outros como comerciantes, construtores, etc.
Entre os bacharéis pertencentes ao meio jurídico, alguns nomes podem ser lembrados: Carvalho Neto, Osman Hora, José da Silva Ribeiro, Manoel Ribeiro (pai do escritor João Ubaldo Ribeiro), Anderson Nascimento, Francisco da Rocha, Cláudio Maynart, Evangelino José Faro, Flamarion Ávila, Manoel Cruz, Jugurta Barreto, Marcílio Siqueira Pinto, Renato Sampaio, Joel M. Aguiar, Antônio Xavier de Assis Junior. Nos círculos intelectuais, Epifânio Dórea não pode ser esquecido. Ele teria escrito, mesmo, um jornalzinho (“Alfinetadas e Carapuças”). Mas também Prado Sampaio.
No meio político, na lista que pôde ser levantada de maçons estariam nomes como Carvalho Déda e Francisco Rollemberg. Por que pouca gente? Foi impossível saber alguma coisa. Temos um palpite para isso. Os membros das classes sociais mais altas eram e são católicos e, como homens do poder, não têm necessidade de se aboletar em “sociedade secreta”. Contentam-se em mostrar que estão no poder, que são aqueles que mandam. Isso pode explicar porque Sergipe, depois de mais de um século de existência, nunca teve um maçom governador do Estado.