Afonso Nascimento
Professor de Direito da UFS
O Setor Jovem do antigo MDB nasceu, na primeira metade da década de 1970, do desejo de jovens de participar da grande política. Muitos já faziam a política estudantil e decidiram que também queriam fazer a política partidária. Eles tinham uma coisa em comum: eram opositores do regime militar. A que partido se aproximar? Da Arena? Fora de questão – embora alguns desses tivessem parentes ligados ao partido dos militares. Decidiram ir para o MDB, mesmo com restrições, pois nesse partido muitos de seus membros não estavam interessados em fazer oposição a nada, mas apenas a dar continuidade as suas carreiras políticas depois do fim do multipartidarismo no início do regime militar.
Enquanto existiu, o Setor Jovem do MDB foi composto por estudantes universitários da UFS, oriundos de faculdades como Economia, Direito, etc. Eis aqui alguns nomes desse grupo: Elias Pinho, Agamenon Araújo, Fernando Santana, Francisco Ramos, Walter Calixto, Nilton Vieira Lima, Luciano Oliveira, Antôno José de Gois, Josué Modesto dos Passos, entre outros mais. Mas pessoas que não eram estudantes e outras mais cujas idades que não poderiam ser consideradas jovens também lá estavam. Dois grupos participavam do Setor Jovem da agremiação política que fazia a oposição consentida em Sergipe. De um lado, estavam jovens que estavam ligados – mais ou menos – ao PCB e, de outro, a juventude liberal. Os dois grupos tinham outro traço em comum: fazerem oposição autêntica ao regime militar.
Com a implantação de novo pluripartidarismo em 1979, entendido como um sinal do perecimento da ditadura dos generais, os jovens do MDB se defrontaram com um problema: ficar no MDB então transformado em PMDB ou filiar-se a alguma outra agremiação partidária? Duas opções principais foram consideradas: o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Dois partidos trabalhistas, o primeiro mais à esquerda do que o segundo. Os jovens com conexões com o “partidão” optaram por filiar-se ao Partido dos Trabalhadores (PT). São exemplos dessa escolha mais à esquerda os casos de Goisinho, Josué Modesto dos Passos, entre outros mais, que foram acompanhados por militantes comunistas como Marcélio Bonfim, etc.
Um expressivo número de jovens universitários, juntamente com outros recém-graduados, optou pelo PDT de Brizola. Esses eram os jovens politicamente liberais, entre os quais estavam Carlos Alberto Menezes, Francisco Dantas e Nilton Vieira Lima. Este último foi presidente do PDT e gosta de dizer que era muito próximo de Brizola e que, quando o caudilho gaúcho vinha a Aracaju, ficava hospedado em sua casa. Devido ao grande número de jovens advogados, o recém-criado PDT foi apelidado pela imprensa sergipana como “o partido dos advogados”. Não se pode esquecer que a esse grupo veio juntar o então professor Carlos Britto.
O bloco de jovens que escolheu o PT não teve grande sorte quando lançou candidatos a mandatos eletivos. É mister registrar a eleição para vereador do militante bancário Goisinho. Quanto aos jovens liberais filiados ao PDT, estes também não foram muito felizes nos certames eleitorais. São muitos os exemplos do fracasso em diversas eleições (Nilton Vieira Lima está entre eles.). Ainda em relação ao segundo grupo, faz-se necessário destacar as trajetórias de dois deles, os quais, mesmo desafortunados nas urnas, construíram duas longas carreiras.
Estamos pensando, em primeiro lugar, em João Bosco Mendonça. Natural de Aquidabã, foi professor da UFS e microempresário. Militou no Setor Jovem do MDB, como recém-graduado em Psicologia pela Universidade de Brasília (UNB). Salvo engano nosso, pouco exerceu o magistério, ocupando poucos mandatos eletivos como vereador e deputado estadual e, sobretudo, não eletivos como superintendente da SMTU, diretor da EMURB, assessor político do senador Antônio Carlos Valadares. Perdeu diversas eleições. Atualmente, está aposentado.
O outro nome a pôr em destaque é o de Francisco de Assis Dantas. Igualmente não bom de votos como Bosco Mendonça, esse político nascido em Geremoabo, no estado da Bahia, foi e continua sendo um vitorioso na política sergipana. Francisco Dantas foi vereador por Aracaju e tem colecionado não poucos cargos de primeiro escalão como secretário de municipal e secretário de Estado, a saber, secretário de Assuntos Urbanos, presidente da Aracaju Previdência, secretário de Assuntos Parlamentares, secretário de Administração em nível municipal; secretário de Desenvolvimento Regional e Metropolitano, presidente da Segrase , presidente da Prodase, presidente do Detran, secretário de Estado de Governo, secretário da Agricultura e, atualmente, presidente da Administração Estadual do Meio Ambiente.
Alargando a nossa discussão, existem outros políticos que conseguiram e conseguem construir carreiras políticas sem ou com poucos mandatos. Não é demais esclarecer que esse fenômeno não é privilégio dos jovens universitários com passagem pelo Setor Jovem do antigo MDB, que isso independe de ser de direita ou de esquerda e que não poucos se afastaram da política para sempre e passaram a cuidar de suas carreiras longe da política (Elias Pinho, por exemplo). Por fim, ainda é importante destacar que diversos membros desse grupo ocuparam cargos administrativos, sem, no entanto, fazerem carreiras políticas (esse é o caso de Fernando Santana).