Luiz Eduardo Oliveira
Doutor em Saúde e Ambiente
Finda-se mais um mês, inicia-se uma nova estação e tudo permanece como antes no reino dos sergipanos. Transitar pelo centro da cidade, partindo da confluência das ruas Laranjeiras e Siriri, passando pelo Mercado Thales Ferraz, caminhando pelas ruas Geru, Capela, Santo Amaro, visitando os calçadões das ruas Laranjeiras, São Cristóvão e João Pessoa, cruzar a Travessa Deusdeth Fontes e a travessa Silva Ribeiro, também conhecida pela enigmática e romântica denominação de Beco dos Cocos é um ato de coragem ou necessidade.
Caminhando um pouco, poderemos localizar o Palácio Serigy e/ou subir o edifício Maria Feliciana, oficialmente denominado Edifício Estado e Sergipe, na Tv. Baltazar Góis, e constatar o abandono de nossa cidade.
O centro, geralmente, é o cartão postal de qualquer cidade e quando transitamos pelo nosso, podemos dizer: que tristeza observar o centro de Aracaju. Obras e mais obras, “de fachada”, espalhadas por vários localidades e a história central de nosso povo sendo rasgada, destruída e entregue à própria “sorte”. Falta administração, com certeza, mas falta também o envolvimento da sociedade e dos órgãos fiscalizadores. Quis custodiet ipsos custods? Já perguntava Juvenal.
Pois bem, prédios históricos abandonados, iluminação pública feita baseada na tecnologia denominada “gambiarra” que expõe a falta de gestão estrutural, para utilizar uma palavra da moda, e, para culminar, a sensação da falta de segurança. Circular no centro de Aracaju à noite é perigoso, desaconselhável e, talvez, seja mais fácil sobreviver à Covid.
As violências matam mais que a Covid-19 mas, segundo os analistas responsáveis, esta doença é mais perigosa do que qualquer outra. Entretanto é preciso cautela, pois o número assustador de mortes, roubos, furtos e demais violências não aparece nos noticiários sergipanos exposto em gráficos, com lentes voltadas para as curvas ascendentes e médias de casos das últimas semanas ou elaborados a cada quinze dias. O principal objetivo das informações sobre a Covid-19 é transmitir o terror, sem qualquer apresentação de medidas seguramente eficazes à prevenção, como a proibição de circular em ônibus lotados, vedação de filas em bancos e nas unidades de saúde do Estado e de Aracaju. Nas unidades prisionais? Nenhum questionamento, afinal a população carcerária é composta, predominantemente, por pobres e analfabetos. Ali a superlotação é permitida e aceita pelos agentes públicos que deveriam punir o Estado pelas constantes violações de direitos humanos. Amontoar no centro da cidade é tolerado, sempre foi, desde o início desta pandemia.
Podemos perambular ainda pelo centro da cidade, na qualidade de “cidadão”, daquele que mora na cidade, e encontrar os “palácios” Museu Olímpio Campos e Fausto Cardoso (subutilizados para a denominação que sustentam), o Cacique Chá (sem qualquer memória representativa do que já foi), a sede da Prefeitura Municipal de Aracaju (em grave processo de autodestruição), construções históricas em forte processo de destruição (Hotel Palace, antigas sedes do INSS e da Fazenda Nacional) e praças que não podem ser visitadas a partir das 18:00 horas (General Valadão, Godofredo Diniz, Olímpio Campos, Almirante Barroso, Bandeira, Camerino). Há ainda muitos outros locais que poderiam funcionar como pontos de manutenção e incentivo às artes de uma forma geral (Museu da Gente Sergipana, rua do Turista, que chegou a funcionar por 24 horas, Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, bares e restaurantes do início do século passado (Lusitânia Lanches). As avenidas Dr. Carlos Firpo e Carlos Burlamarqui, junto com as ruas Apulcro Mota, Florentino Menezes e Santa Rosa e mais algumas constituem uma zona “difícil”, principalmente à noite. Até quando assistiremos a essa destruição passivamente? A quem interessa o abandono do centro de Aracaju? Quem pode partir ou ir à Salvador contornando uma ciclovia imaginária?