“Como deputado foi dos mais ativos e participantes, Como gestor municipal, merecem ser observadas as dificuldades encontradas em vários campos e Como chefe do executivo estadual foi diferente. Começou bem. Realizou bastante, mas uma série de adversidades internas e externas trouxe vários problemas. Para completar, sofreu muito com problemas de saúde”. Essas são algumas das avaliações que o cientista político e professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Ibarê Dantas, faz do ex-governador Marcelo Déda. Ibarê fará, às 17h desta terça-feira, 09, o lançamento do seu mais recente livro: “Marcelo Déda na construção da democracia” pela Editora Criação, no Museu da Gente Sergipana. .
Veja a seguir os principais trechos de entrevista ampliada.
Eugênio Nascimento
PRIMEIRA MÃO – Qual foi a motivação para escrever esse livro?
IBARÊ DANTAS – Ao escrever alguns textos sobre as eleições em Sergipe do período 1974-2014, a partir de 1985 a presença de Marcelo Déda despertou atenção e foi registrada. No livro, após tratar de suas origens familiares e da formação intelectual, concentrei a análise em sua atuação política na esfera pública. Como sua vida foi intensa no movimento estudantil, nas campanhas eleitorais, no parlamento, na prefeitura e no governo do Estado, o trabalho cresceu mais do que eu previa.
PM – Quanto tempo levou a pesquisa e a escrita?
ID – Cinco anos após sua morte, comecei a pensar em escrever uma síntese sobre sua participação nos pleitos eleitorais, aproveitando alguns dados de que dispunha. Mas faltava analisar suas ações como parlamentar e executivo. Essa última parte foi mais difícil. Concluí no fim do ano passado e fiquei a revisar o texto, aguardando condições para editar.
PM – Depois de pesquisar a história política de Sergipe, o senhor começou a se dedicar a biografias. Como se deu essa decisão? Quais foram as dificuldades?
ID – Depois que publiquei O Tenentismo em Sergipe em 1974, num espaço de tempo aproximado de quatro anos, passei a divulgar o resultado de novas pesquisas. Como minha vida prolongou-se, consegui cobrir o período republicano e sobrou um tempinho. Voltei-me então para a fase imperial que havia ficado de fora. Diante da vastidão de fatos do período, escolhi uma figura emblemática e expressiva da política da época, Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1825-1909), como eixo de análise. Depois apresentei o filho, Leandro Maynard Maciel, que atuou com destaque no século subsequente, dos anos vinte até 1984 quando faleceu. Para completar essa outra maneira de estudar a história, completei a trilogia sobre os políticos representativos do seu tempo com Marcelo Déda, no meu juízo uma das personalidades mais marcantes do processo de democratização a partir dos anos oitenta até sua morte. Um detalhe, meus livros anteriores e vários artigos estão disponíveis no site academia.edu e são bastante visitados, deixando-me a impressão que estão sendo úteis.
PM – O senhor falou em outra maneira de estudar a história. Explique melhor esse novo método.
ID – No nosso caso, consiste em acompanhar o percurso do personagem dentro do contexto do seu ambiente e do seu tempo. Primeiro, observar suas origens familiares. Quem são seus parentes próximos. Em seguida, falo de sua formação intelectual, suas preferências, a desenvoltura. Depois sua atuação no movimento estudantil, suas companhias, seus influenciadores e suas proezas. Ainda adolescente já enturmado e com alguma vinculação partidária acontece sua primeira candidatura, que lhe serve de ensaio. A partir da segunda campanha, o texto mostra o embate com seus competidores. É uma forma de entender o processo político estadual. Na terceira candidatura sua votação foi imensa. Até então inédita. Depois, as derrotas acachapantes. Tudo ajuda a compreender o homem pelas reações diante do sucesso e do desprezo.
PM – Que diz de Déda parlamentar?
ID – Como deputado foi dos mais ativos e participantes. Apesar disso, observa-se que, apesar do destaque no mandato estadual, inclusive na constituinte, seu prestígio eleitoral decaiu. Como federal, sua popularidade aumentou consideravelmente no estado e no país. Em sua segunda eleição para federal, sua votação cresceu muito e passou a ser visto com condições ter sucesso em cargos executivos.
PM – E o Déda como administrador?
ID Antes de falar diretamente do tema, é importante lembrar um dos pleitos eleitorais mais interessantes, que foi o de 2000, quando as forças políticas que controlavam ou buscavam controlar a prefeitura se mostraram embaraçadas à beira de pânico, sem saber que estratégia seguir para evitar a derrota. Como gestor municipal, merecem ser observadas as dificuldades encontradas em vários campos. Entre os adversários e correligionários. Contudo, ele supera os obstáculos e termina bem.
PM – E como governador, como foi seu desempenho?
ID – Como chefe do executivo estadual foi diferente. Começou bem. Realizou bastante, mas uma série de adversidades internas e externas trouxe vários problemas. Para completar, sofreu muito com problemas de saúde. Além disso, vivendo-se num período de declínio econômico, enfrentou dificuldades que geraram várias controvérsias. Surgiram inclusive interpretações negativas mal explicadas, trazendo constrangimentos. Estudei a conjuntura e penso que contribuo para esclarecer alguns pontos obscuros, apontando para as principais causas, tornando os acontecimentos mais compreensivos. Isso é o que eu imagino. Resta saber como os estudiosos da problemática irão se manifestar.
PM – O livro é composto por quantas páginas e capítulos?
ID – O livro tem 540 páginas, 16 capítulos e um epílogo que tenta pensar o papel de Marcelo Déda na vida política do Estado. Além disso, é ilustrado com quadros, gráficos e 83 fotos. É resultado de uma pesquisa com depoimentos, entrevistas, mensagens e muitos dos seus discursos. Revistas e livros, teses de doutorado e dissertações de mestrado, monografias e relatórios, jornais e plataformas digitais, imagens e sites, documentos públicos e privados, bem como manuscritos.
PM – Qual a editora e onde estará disponível para venda?
ID – Foi editado pela Criação, impresso na gráfica J. Andrade, ambas de Aracaju. No dia 9, será lançado a partir das 17 horas no Museu da Gente Sergipana e depois estará disponível na Escariz, Leitura e Alquimia.
PM – Quantos livros já publicou?
ID – Doze e apenas um não teve lançamento formal, Coronelismo e Dominação, que é um dos mais citados fora do estado.
Inicialmente pensei não lançar esse último. Entretanto, após 49 anos de publicações, é uma oportunidade de despedida de lançamentos festivos, de rever pessoas interessadas nos temas de Sergipe, como uma amostra dos prováveis leitores. Contudo, diante de minhas atuais limitações, vai ser um senhor desafio. Por isso, peço a compreensão de todos para participar de forma mais discreta.
LIVROS PUBLICADOS
1. O Tenentismo em Sergipe (Da Revolta de 1924 à Revolução de 1930).
2. A Revolução de 1930 em Sergipe: Dos Tenentes aos Coronéis.
3. Coronelismo e Dominação.
4. Os Partidos Políticos em Sergipe (1889-1964).
5. A Tutela Militar em Sergipe (1964-1984): Partidos e Eleições num Estado Autoritário.
6. Eleições em Sergipe (1985-2000).
7. História de Sergipe: República (1889-2000).
8. Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (1825-1909). O patriarca do Serra negra e a política oitocentista em Sergipe.
9. História da Casa de Sergipe: Os 100 anos do IHGSE 1912-2012.
10. Memórias de Família. O percurso de quatro fazendeiros.
11. Imprensa Operária em Sergipe (1891-1930).
12. Leandro Maynard Maciel na política do século XX.
(Entrevista publicada no Jornal da Cidade)