José Carlos Santana de Oliveira – Médico cardiologista e ex-professor da UFS
Como já está acontecendo em vários países da Europa, com apenas 5 meses após o pico da doença, um período de novo crescimento de casos também deverá acontecer *entre nós. O tamanho, a duração e sua letalidade são prognósticos de difíceis mensuração, no entanto, nitidamente previsíveis.
Enfrentar uma das maiores pandemias da história da humanidade numa era de globalização tem sido um desafio e um incrível laboratório para inúmeras e inusitadas ações. Por outro lado o nosso atual modus vivendi fez aflorar um novo sentimento definido na psicologia moderna como FOMO = Fear of Missing Out (medo de perder, de estar por fora) – FOMO é “uma percepção generalizada de que outros podem estar tendo experiências gratificantes das quais se está ausente”. Essa ansiedade social é caracterizada por “um desejo de permanecer continuamente conectado com o que os outros estão fazendo”. O FOMO também é definido como um medo do arrependimento, que pode levar a uma preocupação compulsiva de que alguém pode perder uma oportunidade de interação social, uma experiência nova, um investimento lucrativo ou outros eventos satisfatórios. Em outras palavras, o FOMO perpetua o medo de ter tomado a decisão errada sobre como gastar tempo, já que “você pode imaginar como as coisas poderiam ser diferentes”.
Esse e muitos outros são os fatores que determinam essa retomada crescente de casos, tais como, o relaxamento das medidas de isolamento social (que por aqui nunca foram exemplares); as notícias otimistas sobre as vacinas (apesar de que a ciência nunca desenvolveu uma vacina muito eficaz contra nenhum tipo de gripe); as graves dificuldades econômicas que forçam a retomada dos negócios produtivos e do laser; o desleixamento de fundamentais medidas de higiene e proteção individual; os péssimos exemplos de algumas autoridades que se expõem em afrontosos comportamentos negligentes e que estimulam muitas pessoas a seguir esses exemplos; a certeza de que a maioria das medidas restritivas “via decretos” raramente são exemplarmente puníveis; a equivocada interpretação por grande parte da população de que a redução do número de mortes já pode ser “comemorada” com sendo o final da pandemia.
O Sars-CoV-2 já está definitivamente incorporado como um novo parasita humano e, o que poderá atenuar sua agressividade ainda está na esfera dos milagres da natureza e da ciência. Vamos torcer que a sua capacidade mutante seja baixa para que as possíveis vacinas tenham melhor eficácia e que a imunidade coletiva (imunidade de rebanho) possa ser uma barreira contra novas explosões epidêmicas. Infelizmente ainda não conhecemos qual é o nível de imunidade, sua duração e o percentual coletivo para se declarar que uma população tenha alcançado a imunidade de rebanho já que pouco se conhece sobre as artimanhas do vírus e sem vacina essa condição somente poderia ser alcançada a um custo de vidas intolerável.
Ficam ainda, portanto, valendo TODAS as regras de distanciamento social e proteção individual como as mais eficientes medidas contra a propagação da COVID-19 e a prevenção de próximas ONDAS que, inclusive nos aspectos econômico e social, poderão ser ainda mais catastróficas.
José Carlos Santana de Oliveira