Pe. Isaías Nascimento
Paróquia de S. S.do Perpétuo Socorro e S. Miguel Arcanjo
Povoado São Miguel – Propriá (SE)
No dia 03 de abril deste ano em curso completou-se 50 anos do falecimento de Dom José Vicente Távora, 3º bispo de Sergipe e 1º Arcebispo de Aracaju. Várias missas foram celebradas em sua memória.
Há 50 anos, por volta das 4 da tarde, a capital sergipana ficou pequena diante da multidão presente na celebração do funeral em frente à catedral metropolitana. A maioria, os pobres: trabalhadores no comércio, camponeses representando os sindicatos dos trabalhadores rurais fundados por ele, e as prostitutas, sim, elas fecharam os prostíbulos e se fizeram presentes no último encontro com aquele que tanto as amava.
Desde o tempo de seminarista, na Diocese de Nazaré da Mata, Pernambuco, se dedicara à causa dos trabalhadores em geral. Como padre e bispo, continuou como referencial da Igreja junto à classe operária. Sentia suas angústias e desafios e a ela se somara na esperança e na construção de uma sociedade mais justa e fraterna à luz da doutrina social da igreja. Pela sua coerência de vida era reconhecido como o Bispo dos Operários.
Junto a Dom Helder Câmara e a outros bispos, principalmente os nordestinos, fez-se pobre com os pobres e a eles emprestou seu poder e voz de pastor.
Durante o período mais tenso da ditadura militar, principalmente no início dos anos 70, quando seu bispo auxiliar já era aliado público dos militares, e ele defensor das liberdades democráticas, não resistiu a tanta dor ao ser denunciado juntamente com seu Conselho Arquidiocesano de Pastoral, naquele final do mês de março de 1970… Seu coração não resistiu à tamanha traição e enfartou pela segunda vez, só que desta vez não teve retorno.
Quando o Papa Francisco disse logo no início do seu mandato “que gostaria de ver a Igreja pobre a serviço dos pobres”, que os bispos fossem “pastores com cheiro de ovelhas”, vem-nos logo a imagem de Dom Távora como pastor da Igreja em Sergipe: era comum vê-lo nas comunidades junto com seu povo, principalmente os mais pobres. Lutou incansavelmente para vê-los libertos da fome e da miséria.
E hoje, neste tempo de isolamento social provocado pela pandemia da covid-19 e a ameaça constante de voltar à ditadura militar, Dom José Vicente Távora aparece como referencial a todos nós pastores, cristãos de várias igrejas e pessoas de boa vontade, como exemplo a ser seguido, a fim de que sejamos “uma igreja em saída”, profética e solidária, anunciando a todos o direito de existir dignamente dos mais pobres, portadores da esperança e da liberdade democrática.