Dor de cabeça durante a pandemia: quais as repercussões?

Josimari Melo de Santana e Maria Ivone Oliveira Dantas*

Cefaleia, popularmente conhecida como dor de cabeça, acomete mais de 90% da
população mundial em algum momento ao longo da vida, com discreto predomínio
entre as mulheres. Segundo a Classificação Internacional de Distúrbios de Cefaleias,
existem mais de 200 tipos de cefaleias, geralmente caracterizadas como dores
localizadas na região da cabeça, que vai desde os olhos até o final da implantação do
cabelo, na região da nuca.

Cefaleia tensional e migrânea (enxaqueca) são as principais cefaleias primárias
e, apesar de provocarem dores na região da cabeça, se manifestam de formas diferentes.
A cefaleia tensional, conhecida por muitos como cefaleia do dia a dia, é caracterizada
por localização predominantemente bilateral, dor em pressão ou aperto, com intensidade
de leve a moderada e, geralmente, permite que o indivíduo mantenha suas atividades
habituais. Já a migrânea tem localização geralmente unilateral, dor pulsante, intensidade
de moderada a grave, piora com atividade física rotineira, e pode apresentar sintomas
associados como medo ou aversão a sons, luz e cheiros, náuseas e/ou vômitos.

O sintoma neurológico mais comum relacionado com a COVID-19 é a cefaleia
e, na maioria dos estudos, sua prevalência se dá em torno de 12% nestes pacientes. No
entanto, não surge isolada, mas acompanhada dos dois sintomas mais importantes: tosse
e febre. Na população brasileira, um estudo apontou que geralmente essas cefaleias
associadas com COVID-19 são graves, difusas, semelhante à migrânea e estão
associadas a redução do olfato e do paladar.

O isolamento social, como medida para reduzir a infecção, restringiu o acesso a
família, amigos e outros sistemas sociais. Como consequência, o estresse crônico de
viver durante uma pandemia pode levar a uma série de sintomas físicos, como cefaleias,
insônia, problemas digestivos, desequilíbrios hormonais e fadiga e podem também
ocasionar problemas mentais, como sensação de solidão, ansiedade, depressão, tristeza,
frustração, medo e aumento considerável dos níveis de irritabilidade. Além disso, pode

motivar maior uso de dispositivos digitais, alterando e comprometendo padrões de sono,
atividade física e bem-estar mental.

Em pessoas com migrânea e cefaleia tensional, houve aumento da frequência e
da gravidade das crises quando comparado ao período pré-pandêmico, associado a
relatos de perturbações do sono e sintomas de ansiedade e depressão, evidenciando
impacto negativo da pandemia nestes pacientes. Esse aumento da frequência mensal de
crises pode ser decorrente da grande carga de estresse físico e mental pela qual estão
passando, e a exposição excessiva de aparelhos eletrônicos.

Considerando as sequelas clínicas que podem durar semanas a meses após a
recuperação inicial pela infecção, chamada de COVID de longa duração, as cefaleias
estão entre os sintomas mais frequentes, acompanhada por fadiga, distúrbio de atenção,
queda de cabelo e falta de ar. Nestes casos, os indivíduos começaram a apresentar essas
cefaleias após a recuperação, enquanto pacientes que já tinham a condição pré-existente
também apresentaram piora em seus casos clínicos.

Por esse motivo, é importante focarmos na prevenção (tanto prevenir fatores que
desencadeiam as crises, como prevenir a cronificação – dor persistente por mais de três
meses) e na distinção desses casos de cefaleias (foi agravada durante a pandemia ou a
cefaleia é sequela após infecção por COVID-19?). Como orientações gerais para um
alívio das crises, em um primeiro momento, recomenda-se realizar a higiene do sono
(manter horários habituais para dormir e acordar), alimentação de forma regrada,
hidratação adequada, prática de exercícios físicos regulares, meditação e alongamentos.
Estas são opções não farmacológicas recomendadas. Se os sintomas persistem e
apresentam alívio insuficiente ao longo do tempo, profissional de saúde especializado
deve ser consultado.

No entanto, pouco ainda se sabe sobre essas repercussões em longo prazo. Por
isso, devemos estar atentos à magnitude das repercussões dessa era COVID-19 em
nossa saúde geral. Adicionalmente, outras estratégias de longo prazo deverão ser
validadas e implementadas para oferecer assistência de qualidade aos pacientes com
cefaleias, proporcionando bem-estar biopsicossocial.

*Profa. Dra. Josimari Melo de Santana. Professora Associada III do Departamento de
Fisioterapia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Docente dos Programas de Pós-
graduação em Ciências da Saúde e Ciências Fisiológicas da UFS. Diretora Tesoureira
da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED). Coordenadora do Grupo
Especial de Dor da Associação Brasileira de Fisioterapia Traumato Ortopédica (ABRAFITO).

*Maria Ivone Oliveira Dantas. Fisioterapeuta. Mestre e Doutoranda em Ciências
Fisiológicas. Programa de Pós-graduação em Ciências Fisiológicas da UFS.


Fonte: Ricardo Queiroz Gurgel – Professor e coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da UFS

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