Professor Eleomar Marques.
Antes de adentrar a pequena biografia do personagem que será relatado, quero pedir-lhes desculpas pelas quantidades de adjetivos empregados para com escopo de melhor definir as características socioculturais e psíquicas deste homem que nos deixou um belo legado.
José Rui de Lima, nasceu em Aquidabã, em 11 de novembro de 1956, mas cresceu na comunidade Caantiga, um pedaço de chão seco no sertão sergipano de Porto da Folha. Comunidade formada por pequenos agricultores ou trabalhadores de aluguel como costuma dizer os sertanejos. O conjunto habitacional daquela comunidade, na sua maioria, apresentava moradias de taipa e de forma espaça, sem energia elétrica, nem água encanada.
Zé Rui era filho dos pequenos agricultores, Maria de Lima e Jorge de Lima, este também conhecido como poeta e cantador do sertão. Analfabeto, o senhor Jorge da Caatinga ganhou notoriedade pelas suas composições de versos que, como bem frisou Frei Roberto Eufrásio, ele usava dos seus dons para evangelizar e conscientizar as comunidades carentes da região.
Pelas características do pai, não é difícil deduzir que Zé também tinha vocação para a criatividade. Ainda moço, saia da comunidade Caatinga para estudar no povoado Lagoa do Rancho. Pelo parco poder aquisitivo, Zé caminhava mais de 8 km a pé para chegar na escola. Retornava para casa da mesma forma, a pé e em meio a escuridão e às vezes debaixo de chuva. No entanto, esses fenômenos nunca foram obstáculos para que Zé se ausentasse das aulas.
Contudo, é de ressaltar que, quem estuda sempre almeja algo melhor, além do conhecimento, um emprego digno do esforço empregado para tanto. No auge dos bancos estatais, o rapaz Zé Rui foi aprovado para técnico bancário no Banco do Brasil de Porto da Folha, normalmente os bancários daquela época gozavam de grande prestígio por conta dos status que a profissão adquiriu. Mas, ficou patente que para Zé, aquela aprovação no concurso não passava apenas um trabalho, uma vez que seu comportamento permaneceu o mesmo daquele jovem da Caatinga. Utilizou-se da sua posição bancária, não para expor vaidades, mas para atender e orientar as pessoas mais humildes como os pequenos agricultores no que tange a empréstimos e outros serviços bancários.
A prova que o novo emprego não lhe causava vaidade é que, com o tempo ele pediu PDV (Programa de Desligamento Voluntário) e passou a atuar como contador na cidade vizinha de Monte Alegre de Sergipe, município onde nutriu casamento pela segunda vez.
Sempre na luta em prol dos menos favorecidos, Zé viu na política partidária um meio de contribuir para a sociedade carente, tanto que se candidatou a vice-prefeito em Porto da Folha, porém, sem êxito. Mas, na nova cidade, trabalhou para como contador para a prefeitura e para MST.
Não raramente, ele executava serviços contábeis de forma gratuita para o homem do campo. As feiras eram locais de encontro ao ar livre para prosas com os velhos conhecidos. A simplicidade e o altruísmo faziam de Zé um homem incomum na região. Dono de uma paciência de Jô e inteligência invejável, carregava consigo um tom positivo, talvez por isso, nunca demostrou mau-humor, ao contrário, ele fazia dos problemas um meio de quebrar o clima tenso.
Mas aquele homem de sorriso fácil foi dando lugar a uma pessoa debilitada, de gesto rústico, começou sua reclusão, algumas pessoas, talvez por não terem mais seus préstimos, deixaram de lhe visitar, não por esquecimento, até porque, uma pessoa com tais qualidades, jamais será esquecida, mas, por ingratidão.
Ao passar do tempo, as enfermidades foram descaracterizando aquele Zé Rui da Caatinga. As chagas do sofrimento físico o transportaram em 29 de março de 2021 aos 64 anos de idade, para o plano eterno. Sabiamente, como dizia o vocalista da banda Legião Urbana, Renato Russo, os bons morrem cedo.
Fisicamente, é sabido que todos os seres humanos perecem, mas, espiritualmente, Zé é imortal, não por ocupar uma cadeira numa academia literária, mas por ocupar um lugar de destaque na academia da vida simples e humilde que lhe dava luz. Como ele costumava dizer para comigo, era eu ficha limpa, não era bem assim Zé! Ficha limpa mesmo é sua alma que lavou a nossa como grande representante de nosso humilde povo sertanejo.
Obrigado Zé!!!
Prof. Eleomar Marques.