Manifestações cutâneas relacionadas à COVID-19

Profª Drª Paula Santos Nunes – Fisioterapeuta, Professora Adjunta do Departamento
de Morfologia – UFS, Professora efetiva do Programa de Pós-graduação em Ciências da
Saúde.
Msc. Marcela Gama Santana Moreira – Doutoranda do Programa de Pós-graduação
em Ciências da Saúde (PPGCS) da UFS. Enfermeira especialista em Estomaterapia

A pele é o maior órgão do corpo humano, correspondendo aproximadamente a
15% do peso corporal e recebendo cerca de 1/3 da circulação sanguínea. É considerado
um órgão multifuncional já que protege o organismo (primeira linha de defesa), excreta
água e eletrólitos, promove a termorregulação através da transpiração e regulação do
fluxo sanguíneo, sintetiza a vitamina D por meio da exposição à luz solar, possibilita a
percepção sensorial, além de ser responsável pela nossa imagem corporal.


Por se tratar de um órgão, a pele também pode sofrer as consequências das
disfunções orgânicas. O sofrimento cutâneo pode ser caracterizado desde alterações na
coloração da pele até o seu rompimento, sendo definido como ferida. Diante do atual
cenário de pandemia que estamos vivendo, vale a pena abordar e discutir as
manifestações cutâneas relacionadas à COVID-19. Sabe-se que o sistema respiratório
humano é o mais afetado, mas devido à resposta imunológica exarcebada com
hiperinflamação e hipercoagulabilidade, outros órgãos podem ser atingidos, incluindo a
pele.


Diversas manifestações cutâneas têm sido observadas em doentes com COVID-19, desde condição clínica branda até mais grave. O conhecimento pelos profissionais
da saúde sobre a fisiopatologia das lesões de pele relacionadas à COVID-19 é
interessante, tanto para reconhecimento precoce destas alterações cutâneas nos caso
assintomáticos a fim de proporcionar um adequado isolamento social, como também
nos casos mais graves para direcionar a terapêutica e expectativas da evolução
cicatricial.

Pesquisadores na Espanha analisaram 375 casos de manifestações de pele e
classificaram em cinco grupos de acordo com o padrão característico, a saber: 1) lesões
nas extremidades (mãos e pés) com eritema e edema com algumas pústulas e vesículas,
assemelhando-se a frieiras; 2) erupções vesiculares de mesmo formato e configuração
(diferente das vesículas da catapora que apresentam características diferentes) no tronco
e membros que podem aumentar e possuir conteúdo hemorrágico; 3) lesões
urticariformes (placas avermelhadas) no tronco ou palmares; 4) lesões maculopapulosas (manchas elevadas), podendo apresentar descamação; 5) livedo (manchas violáceas) ou
necrose (tecido morto), que sugerem acometimento vascular pela doença.


É importante ressaltar que algumas alterações cutâneas, como as urticariformes,
são inespecíficas. Com isso, é necessário associar com outras manifestações clínicas
para confirmar o diagnóstico. Outra possibilidade de confundimento é que os
indivíduos, quando hospitalizados, fazem uso de várias medicações, podendo apresentar
lesões de pele decorrente de farmacodermia e não da infecção viral.

Outro ponto bastante interessante a ser discutido é o processo de cicatrização
nos pacientes com COVID-19. Por ser um processo fisiológico que envolve as células
do sistema imune, a evolução cicatricial das lesões nos doentes com esta infecção viral
pode ser bastante comprometida por conta de inúmeros fatores. Destacamos quatro
situações: 1) oclusão microvascular causada pelo coronavírus que compromete o aporte
sanguíneo rico em oxigênio, processo de quimiotaxia e chegada de nutrientes; 2)
possibilidade de desnutrição devido ao estado hipermetabólico causado pela infecção
por COVID-19; 3) gravidade clínica do doente com COVID-19, impedindo mobilização
no leito e favorecendo a baixa perfusão tecidual nas regiões acometidas pela pressão; 4)
sobrecarga de fluido intersticial (edema), que compromete a circulação, além de
diminuir a resistência da pele a lesões e traumas, incluindo o desenvolvimento de lesão
por pressão (LP).

Além das manifestações cutâneas relacionados à COVID-19, os doentes com
esta infecção viral podem ser acometidos por LP ao serem submetidos à pronação (ficar
de bruços), já que permanecem cerca de 12h a 16h na mesma posição. Esta técnica
consiste em uma das estratégias ventilatórias adotadas para os pacientes com
insuficiência respiratória, com objetivo de melhorar a troca gasosa e oxigenação. O
padrão respiratório pode ser melhorado, já que a posição prona teoricamente
proporciona uma ventilação mais homogênea, como também possibilita a redução do
risco de outros comprometimentos pulmonares (como as atelectasias).

A prevenção de LP nos pacientes em prona é um desafio multidisciplinar. As medidas que podem ser adotadas são: inspeção diária da pele, hidratação e higiene corporal, manejo da umidade, temperatura e diminuição da pressão nas regiões de proeminências ósseas por meio de coxins e espumas de poliuretano. Deve-se realizar a mudança no posicionamento da cabeça a cada 2h, conferir a localização e fixação dos dispositivos médicos e realizar os devidos ajustes.

Por fim, diante do contexto, podemos concluir que os cuidados ao paciente
diagnosticado com a COVID-19 perpassam a atenção aos órgãos vitais. Faz-se necessário a atenção da equipe multiprofissional também para a pele, a fim de diagnosticar as manifestações cutâneas, como também prevenir e tratar as lesões de
pele.

(COLUNA CIÊNCIA E SAÚDE – PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
COORDENADOR: Prof. Dr. Ricardo Queiroz Gurgel) – Publicada originalmente no Jornal da Cidade

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