José Carlos Santana de Oliveira
Médico – Aracaju
“É fazer confusão, dizer coisas atrapalhadas, desconexas. Mas vamos por partes: alho vem do latim allium. É uma erva cujo bulbo se aproveita como tempero, além de ser alimento tradicionalíssimo na dieta humana, cheio de virtudes para a saúde. Diz-se que os milhares de escravos que levantaram as pirâmides de Gizé, no Egito, se nutriam basicamente de alho. Já o bugalho, do celta bullaca, é o fruto do carvalho, a noz que se usa em terços e rosários para contar, pelo tato, orações católicas e islâmicas. Não há relação entre as duas palavras, apenas coincidência fonética e uma boa rima quando falamos de alguém que não diz coisa com coisa, que mistura tudo, cuja conversa não tem pé nem cabeça. Muita gente joga nesse time, é só prestar atenção nos papos furados por aí…” INCLUSIVE quando se fazem comparações entre fármacos atualmente em uso nos tratamentos da COVID-19.
Antes, porém, vamos entender um pouco sobre os ESTÁGIOS e FORMAS preventivas ou terapêuticas aplicadas pela medicina:
- Prevenção primária ou profilaxia – inclui ações e medidas voltadas a impedir a ocorrência das doenças antes que elas se desenvolvam ou que evoluam no organismo dos pacientes. Refere-se ao período pré-patogênico (antes de adoecer e ou imediatamente logo após o contágio) e diz respeito a ações sobre agentes patógenos e seus vetores. Exemplo: eficiente saneamento básico, consumo de água potável, higiene pessoal e ambiental, evitar o contato próximo e sem proteção adequada com pessoas infectadas, evitar drogas, eliminação de vetores, vacinas etc.
- Prevenção secundária – é a ação realizada para detectar um problema de saúde em estágio inicial, muitas vezes em estágio subclínico, no indivíduo ou na população, facilitando o diagnóstico definitivo, o tratamento e reduzindo ou prevenindo sua disseminação e os efeitos de longo prazo. Exemplo: controlar os conhecidos “fatores de risco” que estejam presentes no indivíduo, tais como, obesidade, elevados níveis do colesterol, glicemia, triglicérides; monitoramento de pequenos tumores (sinais) na pele ou mucosas; cessação do tabagismo, etilismo e outras drogas; evitar a exposição excessiva à luz solar ou material radioativo etc.
A prevenção é a estratégia mais eficiente e barata para o paciente e para o sistema de saúde, pois proporciona aumento das chances de diagnóstico das doenças infecciosas, parasitárias, metabólicas, degenerativas, dos tumores em fases iniciais, com exames simples de prevenção primária e/ou secundária. E, ao promover campanhas de vacinação e levar informação para as pessoas, pode incentivar a mudança de hábitos para uma vida mais longa e saudável.
- Terapêutica paliativa ou sintomática – é o conjunto de ações que visam minimizar sinais e/ou sintomas que determinam o sofrimento físico e psicológico causados pelas doenças. Exemplo: analgésicos, antitérmicos, antialérgicos, anticoagulantes, descongestionantes, antitussígenos, hidratação e nutrição complementares, órteses etc.
- Tratamento curativo – são as medidas, medicamentosas ou intervencionistas, reconhecidamente eficazes como curativas para as doenças. Exemplo: antibióticos, antiparasitários, antimicóticos, correção cirúrgica de malformações, extirpação de corpos estranhos, de tumores ou órgãos infectados, soros antiofídicos etc.
- Tratamento conservador – aqui residem várias outras medidas que se propõem ao controle de doenças genéticas, metabólicas, degenerativas “incuráveis” com o propósito de diminuir sintomas, retardar evolução, evitar complicações. Exemplo: medidas fisioterápicas, nutricionais ou ocupacionais; hemodiálise; quimioterapias etc.
- Tratamento suplementar – quando as enfermidades são decorrentes de carências diversas, agudas ou crônicas, do organismo. Exemplo: hormonioteparia para o hipotireoidismo, diabetes e outras, transfusões sanguíneas, agentes hemostáticos na hemofilia, hidratação parenteral etc.
Várias outras medidas terapêuticas estão cada vez mais presentes na medicina moderna envolvendo os tratamentos estéticos e corretivos de deformidades; sofisticadas técnicas cirúrgicas; implantes de equipamentos eletrônicos como desfibriladores e marcapassos; próteses etc.
Conclui-se, portanto, que não se pode fazer comparativos, por exemplo, entre Dipirona com Ivermectina, nem Aspirina com Cloroquina… Assim, quando se exige “comprovação científica” para uma medida terapêutica será necessário e fundamental se considerar esses elementares conceitos e propósitos, senão, estaremos misturando alhos com bugalhos.
“Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém”
1 Coríntios 6:12. Versículo da Bíblia Sagrada