O Luto prolongado pode ser um fator de risco para o Câncer de mama?

Profa. Dra Andréia Laura Prates Rodrigues (andreialaura@academico.ufs.br) – Professora Adjunta de Biofísica do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de Sergipe

Profa. Dra Sandra Lauton Santos (sandralauton@academico.ufs.br) – Professora Associada de Biofísica do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de Sergipe, Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas

Em pouco tempo entraremos nos meses de outubro e novembro, nos quais o Ministério da Saúde do Brasil começa uma vasta campanha conhecida como “Outubro Rosa” e “Novembro Azul”. Campanhas que têm como alvo a prevenção, estratégia de grande efetividade no combate ao câncer de mama e próstata, e a importância de conhecermos as causas dessas doenças.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer, o câncer é responsável por uma das maiores taxas de mortalidade no mundo e o câncer de mama é o que apresenta a maior incidência e mortalidade entre as mulheres. Definido pela Organização Mundial da Saúde como uma doença multifatorial com causas variadas, externas e internas ao organismo, o câncer de mama tem na idade, no histórico familiar, no uso de contraceptivos, no consumo de álcool, no tabagismo, doença mamária prévia, na exposição à radiação e na obesidade os principais fatores causais. Recentemente o estado emocional, o estresse, a depressão e o luto prolongado (patológico) vêm sendo investigados como fatores de risco para esse tipo de câncer*.

O trauma pode ser definido como um acontecimento importante e intenso na vida de uma pessoa, onde a incapacidade de reagir ao evento de maneira adequada é o fator principal. Essa incapacidade se correlaciona aos efeitos adversos que o evento traumático pode causar na organização psíquica do indivíduo, gerando um estado emocional caracterizado por um aumento das ansiedades e medos, além de uma percepção alterada do mundo e de si próprio. Conflitos, problemas emocionais traumáticos, perda de algum familiar, separação entre cônjuges são alguns dos fatores emocionais listados pela literatura científica e que podem afetar a saúde emocional e aumentar o risco para o desenvolvimento de doenças. Nesses casos o surgimento do tumor é atribuído à forma inadequada dos pacientes em lidar com traumas vividos no passado e alguns pacientes relatam que o tumor exteriorizou fisicamente muitas magoas que foram armazenadas.

A alteração do equilíbrio de hormônios neuroendócrinos é uma possível explicação fisiológica para o surgimento da doença, uma vez que em mulheres esse equilíbrio hormonal é facilmente afetado por trauma psicológico. Já foi relatado, em artigo científico, que experiências emocionais adversas de longo prazo podem causar hiperplasia em células epiteliais mamárias podendo levar ao desenvolvimento do tumor. Pesquisas também têm evidenciado relação entre a ocorrência de eventos estressantes antecedentes (dentro de um período de 5 anos) e o diagnóstico subsequente de doença de mama, como maior risco para desenvolver o câncer de mama em mulheres. Foi demostrado por vários pesquisadores que mulheres que experimentaram um sofrimento psicológico específico ou generalizado, como grandes perdas e quadros de depressão anteriores, tiveram diagnóstico de câncer de mama.

Apesar de todas as pesquisas, ainda não se pode afirmar que o luto aumenta o risco do desenvolvimento do câncer de mama, sendo que diversos fatores são apontados como causadores da dificuldade para provar esta relação. Enquanto isso, deve-se trabalhar na direção da promoção da saúde tendo um cuidado maior com os momentos traumáticos de forma a não evoluírem para um processo patológico associado ao aparecimento de doenças. Nessa direção e para prevenção do câncer de mama, o uso medidas simples podem reduzir o risco e aumentar as chances de detecção precoce e um tratamento bem-sucedido.

(1) Informação: a disseminação de informações sobre prevenção e detecção precoce do câncer de mama é fundamental. Estudos mostram que campanhas de conscientização aumentam a adesão a exames de rastreamento. Portanto, compartilhe conhecimento com amigos e familiares para que todos estejam cientes dos benefícios da prevenção.

(2) Tocar as mamas é essencial para acompanhamento da saúde das mamas. Lembre-se de que a detecção precoce faz toda a diferença. Faça sua parte e incentive as mulheres ao seu redor a cuidar da saúde das mamas.

(3) Alimentação saudável, exercícios regulares e exames de rotina, podemos reduzir significativamente os riscos.

(4) Apoio emocional: o diagnóstico de câncer de mama pode ser emocionalmente desafiador. Pesquisas sugerem que o apoio emocional, seja de amigos, familiares ou grupos de apoio, pode melhorar a qualidade de vida das pacientes e ajudá-las a enfrentar a jornada do tratamento.

(5) Acesso à saúde: é fundamental que todos tenham acesso a serviços de saúde de qualidade. Governos e organizações de saúde devem trabalhar juntos para tornar os exames de mamografia e consultas médicas acessíveis a todas as mulheres, independentemente de sua situação econômica.

* NIHMI N. M. DE; MARTINS, MATIAS J. A.; AMARAL L. M.; RHANA P.; TAVARES E. C.; LEITE W. S.; TAVARES G. R.; RODRIGUES A. L. P. Breast cancer: Is grief a risk factor? Revista da Associação Médica Brasileira, v. 64, p. 595-600, 2018. 

COLUNA CIÊNCIA E SAÚDE – PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE – COLUNA 222

Editor: Prof. Dr. Ricardo Queiroz Gurgel

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