O panorama da mortalidade por transtornos mentais no estado de Sergipe

Profa. Dra. Salvyana Carla Palmeira Sarmento – Médica e professora de Saúde Coletiva da UFS. Mestre em Saúde e Ambiente pela UNIT e doutoranda pelo PPGCS da UFS.

Natasha Alexandre Melo dos Santos – Estudante de Medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Prof. Dr. Carlos Anselmo Lima – Cirurgião Oncológico e Mastologista, com atuação no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Coordenador do Registro de Câncer de Base Populacional de Aracaju. Docente Permanente do PPGCS e do PPGITS da UFS.

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), transtornos mentais (TM) e questões comportamentais são conjuntos de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecíveis que, na maioria dos casos, vêm acompanhados de sofrimento e interferem nas funções pessoais. A presença de um transtorno mental geralmente leva a prejuízos funcionais nas pessoas, afetando suas relações familiares e sociais, bem como suas atividades educacionais, profissionais e outros aspectos importantes para a vida adaptada ao seu contexto.


A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022) divulgou uma análise abrangente sobre a saúde mental, revelando que quase um bilhão de pessoas estavam vivendo com transtornos mentais em 2019, sendo 14% dessas pessoas adolescentes. Aqueles com condições graves de saúde mental geralmente morrem de 10 a 20 anos mais cedo do que a população em geral, principalmente devido a doenças físicas evitáveis. Pessoas diagnosticadas com condições psiquiátricas têm 10 vezes maior chance de morrer por suicídio do que a população em geral, e esse risco está associado a todas as causas de morte. O suicídio foi responsável por mais de uma entre cada 100 mortes, com 58% delas ocorrendo antes dos 50 anos.


O Brasil ocupa o segundo lugar nas Américas em termos de anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) devido a transtornos mentais, padronizados por idade a cada 100.000 habitantes, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. No que diz respeito aos transtornos depressivos, o Brasil ocupa a sexta posição nas Américas. Os transtornos mentais têm um impacto significativo na saúde pública, sendo uma das principais causas de absenteísmo e incapacidade no trabalho, gastos públicos com afastamentos ou aposentadorias e perda de anos de vida saudável.


Estudos que abordam a morbidade e mortalidade devido a transtornos mentais são cruciais para orientar as políticas de saúde pública e melhorar os cuidados de saúde para prevenir que mais pessoas fiquem doentes e morram precocemente. Um estudo de séries temporais, baseado no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) para o estado de Sergipe, analisou a mortalidade por transtornos mentais e comportamentais, intoxicações por drogas e outras substâncias, e causas externas intencionais ou não, ocorridas no estado de 1980 a 2021. Para homens, foi observada uma tendência significativa de aumento entre 1980 e 1987, seguida por um declínio até 2001 e, em seguida, um aumento até 2010, estabilizando-se até 2021. Um padrão semelhante foi observado para mulheres.


Vários fatores contribuem para o surgimento, agravamento e morte por transtornos mentais, incluindo questões genéticas e familiares, normas e valores socioculturais, situações econômicas e limitação a serviços de saúde adequados. O estigma, a discriminação e preconceito também prejudicam a qualidade de vida das pessoas com transtornos mentais, retardando a busca por ajuda, diagnóstico e tratamento.


Segundo a OMS, apenas uma pequena parcela da população mundial tinha acesso a cuidados de saúde mental eficazes, mesmo antes da pandemia. Em relação aos transtornos psicóticos, 70% das pessoas em países de alta renda recebem tratamento, enquanto em nações de baixa renda, apenas 12% são tratadas.


A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) iniciou a Campanha Setembro Amarelo em 2013, visando chamar a atenção para o problema, especialmente para a prevenção do suicídio, que quase sempre está associado aos transtornos mentais. Enquanto há uma tendência global de diminuição nos transtornos mentais e nas taxas de suicídio, o oposto ocorre nas Américas, com um aumento nos casos. No Brasil, houve aproximadamente 14.000 casos por ano, uma média de 38 suicídios por dia, que poderiam ter sido evitados com acesso adequado ao tratamento.


A sociedade precisa estar ciente dessa realidade e pressionar as autoridades para transformar o cenário, oferecendo cuidados adequados às pessoas com transtornos mentais, que também são negligenciadas em nosso estado. Temos apenas um serviço público de referência para atendimento de urgência em saúde mental. Até quando faremos parte dessa realidade que causa tanto sofrimento? E como está sua saúde mental? A prevenção e busca por ajuda são sempre o melhor caminho.

COLUNA CIÊNCIA E SAÚDE – PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE –
COLUNA 236
Editor: Prof. Dr. Ricardo Queiroz Gurgel
Coordenador PPGCS: Prof. Dr. André Sales Barreto

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