Quais as Vacinas em teste para COVID-19?

Diego Moura Tanajura – Professor Adjunto do Departamento de Educação em Saúde da UFS, Coordenador do @Imuno_News e da revista de divulgação científica “Oxe! Que história é essa?”.


Tatiana Rodrigues de Moura – (tmoura.ufs@gmail.com)-Professora Associada do Departamento de Morfologia, Coordenadora Adjunta do Programa de Pós-graduação em Ciência da Saúde, Docente do Programa de Biologia Parasitária e Pesquisadora nível 2 CNPq.


O vírus SARS-CoV-2, responsável pela pandemia atual, surgiu em dezembro de 2019 na cidade chinesa de Wuhan. Até o dia 06 de outubro, já foram confirmados mais de 35 milhões de casos e mais de 1 milhão de mortos pelo mundo. Na ausência de um tratamento antiviral comprovado contra o vírus, só nos restam as práticas de isolamento ou distanciamento social. Estas são importantes para salvar vidas, no entanto, possuem um grande impacto econômico. Desta forma, a vacina é primordial para evitar mais mortes, impedir novas transmissões e retornar as nossas atividades o mais próximo do normal.


A vacina é uma importante forma de prevenção contra doenças. Na vacinação há introdução do agente causador da doença (atenuado ou inativado) ou substâncias que esses agentes produzem no corpo de uma pessoa, como consequência a produção de anticorpos e células de memória pelo sistema imunológico. Essa resposta imunológica deixa a pessoa vacinada preparada para responder rapidamente ao agente agressor, antes mesmo do surgimento dos sintomas da doença. Existem mais de 50 vacinas em uso em todo o mundo, sem dúvida, que lançadas mundialmente permitiram a proteção contra doenças infecciosas que mataram milhões de pessoas, dentre elas, Varíola, Raiva, Tétano, Difteria, Tuberculose, Febre amarela, Influenza, Poliomielite e Hepatite B.


Atualmente, há um esforço mundial para o desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem 193 pesquisas em andamento para o desenvolvimento de uma vacina contra a COVID-19. Destas, 151 estão em testes pré-clínicos e 42 em testes clínicos. Os testes pré-clínicos são desenvolvidos em modelos animais, como camundongos, coelhos e macacos. As vacinas aprovadas nos testes pré-clínicos passam para a próxima fase, que são os testes clínicos. Nestes, as vacinas são testadas em voluntários humanos e têm o objetivo de avaliar sua segurança, sua resposta imune induzida e eficácia. Os testes clínicos são divididos em quatro fases; após a aprovação na terceira fase, a vacina já pode ser distribuída para a população. Das 42 vacinas em testes clínicos, 10 já estão na fase 3.


O desenvolvimento de uma vacina não é tarefa fácil. O tempo médio para sua produção leva de 10 a 11 anos, e somente 6% das vacinas em testes pré-clínicos chegam a ser aprovadas. As vacinas mais rápidas da história foram a do Ebola e a da Caxumba. A primeira levou 5 anos, e a segunda apenas 4 anos! Será que vamos quebrar esse recorde de produção de uma vacina nesta pandemia? Na tentativa de acelerar o processo, vários grupos de pesquisas pelo mundo têm testado diferentes estratégias vacinais, que vão desde as mais antigas e conhecidas, como vírus morto (processo similar à vacina da Gripe e da Raiva produzidas pelo Instituto Butantan), até as mais novas baseadas em materiais genéticos (DNA e RNA). Até o momento, não temos nenhuma vacina humana licenciada usando esta nova tecnologia genética, cuja maior vantagem é a rapidez na produção em larga escala.


Por conta da situação da pandemia no nosso país, o Brasil é considerado um dos
melhores locais para teste de uma possível vacina, principalmente testes de fase 3. Nesta
fase, os voluntários vacinados devem estar expostos ao vírus para avaliar se a vacina
será capaz ou não de protegê-los da infecção. Por esse mesmo motivo, boa parte dos
voluntários são profissionais da saúde. Das 10 vacinas em fase 3, quatro estão em testes
no Brasil: a vacina da Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica
AstraZeneca; a vacina da empresa chinesa Sinovac; as outras duas são vacinas das
empresas norte-americanas Johnson & Johnson e Pfizer.


As vacinas da Universidade de Oxford e da Sinovac são consideradas as mais avançadas
e promissoras contra o SARS-CoV-2. A vacina de Oxford é testada no Brasil através de
uma parceria com a Fiocruz. O acordo prevê 100 milhões de doses e a transferência de
tecnologia. Este acordo é importante, pois o Brasil passa a ter prioridade no recebimento
da vacina. Além disso, a Fiocruz receberá a tecnologia de produção que ainda não temos
por aqui e poderá adaptá-la para a produção de outras vacinas. Esta tecnologia utiliza
um vetor viral de primatas que carrega dentro de si a informação para a produção da
vacina contra o SARS-CoV-2. Em outras palavras, temos um vírus atenuado que causa
resfriado em macacos que funcionará como o transportador da vacina contra o
coronavírus. Utilizar um vetor viral como vacina é algo seguro? Sim, pois o vírus está
enfraquecido e é incapaz de causar doenças em pessoas saudáveis. A vacina contra o
Ebola foi a primeira licenciada para humanos que utiliza essa estratégia de vetor viral.
Parte do avanço da vacina de Oxford se deve aos investimentos feitos em Ciência e
Tecnologia, que permitiram desenvolver, ainda no ano de 2012, uma estratégia de vetor
viral. Por conta disso, os pesquisadores conseguiram avançar rapidamente no
desenvolvimento da vacina atual. Essa é a mentalidade que precisamos ter no Brasil:
investir em pesquisa não é gasto!


A vacina da Sinovac está em teste no Brasil em parceria com o Instituto Butantan. O
acordo prevê a transferência de tecnologia e um total de 180 milhões de doses da vacina. A estratégia vacinal utilizada já é dominada pelo Instituto Butantan, pois é similar à vacina da Raiva, utilizando vírus inativado (morto). A grande vantagem dessa vacina é a sua segurança, pois vacinas com vírus morto podem ser aplicadas em pessoas com alguma deficiência no seu sistema imune.


E a vacina da Rússia? Existe muita polêmica! No dia 11 de agosto, a Rússia aprovoumsua vacina sem ter apresentado os dados dos estudos e, pior ainda, sem ter finalizado os testes clínicos que garantissem sua segurança. No dia 04 de setembro, esses dados foram publicados numa das melhores revistas científicas, mesmo assim receberam muitas críticas da comunidade científica. Nos ensaios clínicos de fase 1 e 2, a Rússia só testou 76 voluntários. É difícil garantir alguma segurança com tão poucos participantes. Como contraponto, a vacina de Oxford, neste estágio, avaliou mais de mil voluntários. No dia 8 de setembro, o Ministério da Saúde da Rússia declarou que o primeiro lote da vacina será liberado para a população. É muita irresponsabilidade liberar uma vacina para a população antes de finalizar os ensaios clínicos. Se a vacina liberada não proteger contra a COVID-19, os vacinados poderão ter uma falsa sensação de segurança e relaxar nas medidas de proteção, culminando, assim, com o aumento da transmissão do vírus. Já se a vacina liberada não for segura, várias vidas serão colocadas em risco. Os protocolos de testes existem, justamente, para garantir que a vacina liberada seja não só eficaz, mas também segura.


É importante destacar que vivemos um momento único na área da vacinologia. Nunca na história da ciência tivemos tantos grupos de pesquisas focados num só objetivo – desenvolver uma vacina! E vocês podem ter certeza de que ela chegará!

COLUNA CIÊNCIA E SAÚDE – PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
COORDENADOR: Prof. Dr. Ricardo Queiroz Gurgel

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