Quarta-feira de cinzas era dia de liberar os mais briguentos do carnaval

Nos anos de 1980, as quartas-feiras de cinzas eram marcadas pelas idas às sucessivas missas celebradas pela Igreja Católica, mas também como o dia em que eram soltas nas delegacias as pessoas que foram presas em brigas – trocas de tapas e murros – durante o reinado de Momo.

A liberação dos detidos era um ato que atraia muita gente, parentes e amigos, inclusive a imprensa, para as portas da 2ª Delegacia Metropolitana, na época e até hoje funcionando na rua Divina Pastora, e da SSP,  onde tinham algumas poucas celas, salvo engano,  seis, no porão.

O ex-delegado e jornalista Carlos Correa, que atuava na Gazeta de Sergipe e na 2ª DM nos anos de 1983 e 1984, lembra: “essa delegacia era responsável pela área do centro da cidade, por onde muitos blocos passavam e o jeito era deter alguns dos mais violentos. Os briguentinhos iam, na verdade, descansar um pouco”.

A polícia era chamada pelos organizadores de blocos, que tentavam acalmar os ânimos. Quando não conseguiam, chamavam a polícia. As brigas, em sua maioria, eram motivadas por excesso de consumo de bebidas alcoólicas. O consumo era grande de batidas de limão e maracujá.

Os blocos desfilavam pelas ruas de Aracaju pela manhã e tarde. Quem tinha um dinheirinho a mais ou ganhava convites ia para os bailes carnavalescos nos clubes à noite. Os clubes mais populares na épocas eram o Cotinguíba, Vasco e Clube do trabalhador. A classe média curtia a Atlética e os mais endinheirados entravam em ritmo de festa no Iate Clube.

Prendíamos também os arrombadores, que aproveitaram o comércio fechado no carnaval para roubar nas lojas.

Nas portas dos dois espaços, fotógrafos dos jornais, repórteres e radialistas trabalhavam no sentido de pegarem as melhores fotos e as melhores declarações daqueles que foram para as festas, brigaram e passaram o reinado de Momo numa delegacia.

Um ou outro depoimento dos arrombadores de lojas detidos eram usados nos noticiários radiofônicos.

Esse quadro era muito constrangedor para os detidos e também para os comunicadores que, às vezes, viam amigos entre os que deixavam o espaço policial. Ainda que não fosse agradável, alguns dos briguentos saiam da delegacia e da SSP vestidos de mortalha e com o rosto sujo de maizena misturada com Q-Suco de morango, cereja ou uva alegremente cantando e/ou dançando, talvez na espera de conseguir ainda curtir o carnaval.

Mas tinha também aqueles que cobriam os rostos com as mãos ou mortalhas para não ser reconhecidos. Restava-lhes torcer para que parentes e amigos não vissem a situação deprimente na telinha da TV no horário do noticiário ou nas páginas de jornais na quinta-feira pós-cinzas.

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