Por Silvio Santos – jornalista e dirigente do PT Sergipe
Já há muito tempo a base social petista sua militância e alguns dirigentes clamam pela retomada do protagonismo político nas disputas eleitorais em Sergipe através de candidaturas próprias. Depois de termos governado a capital e o estado por vários mandatos consecutivos sob a liderança de Marcelo Déda, após sua morte prematura, o PT se dedicou a uma interminável luta interna fato do qual nossos “aliados” se aproveitaram para nos transformar em meros apêndices, o que nos trouxe um imenso prejuízo político, nos tirando da condição de protagonistas para meros coadjuvantes.
Finalmente em 2020, resolvemos, ainda que de forma tardia, aos 48 minutos do segundo tempo, enfrentar a Síndrome de Estocolmo que acometia parte de nossas lideranças e atender aos anseios de nossas bases, apresentando candidatura própria à Prefeitura de Aracaju. A intempestividade e uma pandemia que nos tirou das ruas, nossa principal arena de atuação, foram fundamentais para um resultado eleitoral aquém das nossas possibilidades, mas aos olhos políticos mais argutos enxergava-se ali uma essencial vitória política. Significava a quebra dos grilhões que nos prendiam à mesmice política a qual nós já havíamos enfrentado antes.
Foi graças a alforria conquistada pelo PT em 2020 que foi possível chegar ao final de 2022 com um resultado tão expressivo e reconquistando o papel de importância no palco da arena política. Reconquistamos praticamente a metade do nosso eleitorado com um programa identificado com os anseios populares e rememorando sonhos e emoções que nosso povo já mal enxergava no horizonte, fruto de tanta supressão de direitos, de descasos, de truculências e de falta de compromisso produzido por uma casta politicamente ultrapassada, cujas ideias só encontram paralelo com os personagens da República Velha.
Próprio das práticas de antanho, em 2022, os neo-coronéis, passaram mais de dez meses com uma velha e modorrenta narrativa de que a candidatura do PT não era para valer, que Lula não apoiaria, que Lula não iria permitir candidatura própria, que Lula isso, que Lula aquilo… tudo bem ao estilo dos velhos udenistas: o adversário ”não deve ser candidato, se for candidato não deve ser eleito, se for eleito, não deve governar.”
A surrada narrativa se demonstra na verdade uma estratégia. Olha o que está acontecendo mais uma vez com o processo de candidatura própria do PT. Primeiro o PT decide que de novo terá candidatura própria para o pleito de 2024. Antes que qualquer nome seja apresentado, já borbulha nos bastidores em ritmo de fofocas, que “Lula não permitirá uma candidatura do PT porque isso irá incomodar seus aliados no Estado”. Quando os petistas começaram a especular nomes dentre os seus principais quadros, a reação parecia mais uma ofensa aos nomes citados. Como estava muito claro que as bases petistas não apoiariam uma candidatura adversária travestida de “aliado de Lula”, muita gente que pensava nessa possibilidade não teve coragem de defender nas instâncias do partido.
Foi nesse cenário de quase WO que aparece o nome de Candisse Carvalho e em seguida o de Clóvis Barbosa. Ufa! Habemus Papa, respirou aliviada a nação petista. A direção partidária abriu as portas para o debate interno, os entendimentos com todas as forças políticas e, fruto dessa construção veio o Encontro Municipal, fórum máximo de deliberação interna sobre candidatura no PT e, com a saída espontânea de Clóvis Barbosa do processo de escolha, Candisse teve seu nome aprovado no Encontro por aclamação.
Assim como acontecera com Rogério Carvalho quando candidato em 2022, apesar do PT ter chancelado a candidatura de Candisse, os adversários do PT insistiam nas mesmas narrativas falaciosas de que “não iria adiante”, que Lula blá, que o PT nacional blá, blá e, apesar de tentarem junto a este e aquele, Candisse acaba de passar por mais uma instancia partidária. Dessa vez foi a Executiva Nacional que no dia de hoje (06/05) homologou seu nome como pré-candidata do PT para a Prefeitura de Aracaju.
Sabemos que haverá muito choro e ranger de dentes. Que a enfadonha narrativa ainda irá perdurar, mas a cada passo dado, os incomodados perdem o fôlego. Os interesses pessoais camuflados no discurso de que a candidatura do PT vai de encontro aos interesses de Lula, porque este deve apoiar seus aliados do Centrão aqui no estado, é falacioso. Em 2022, dos oito deputados federais eleitos por Sergipe, cinco fizeram campanha pra Bolsonaro contra Lula, dois podem até terem votado em Lula, mas não fizeram campanha, e apenas um, o do PT, João Daniel, votou e fez campanha. Vendo os votos desses mesmos deputados sergipanos nas votações cruciais de interesse do governo na Câmara – quando não votam contra se ausentam – quem garante que em 2026, com o prenúncio de uma candidatura forte à direita, estes aliados ainda estarão com Lula?
Não me enganam os que tentam confundir quem são nossos amigos e inimigos. “Leais são as feridas feitas pelo amigo, mas os beijos do inimigo são enganosos.” (Provérbios 27:6).