Profa. Dra. Isabella Barros Almeida (bella.barrosalmeida@gmail.com) – Enfermeira e Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFS.
Prof. Dr. Márcio Roberto Viana Santos (marciorvsantos@academico.ufs.br) – Biólogo, Professor do Departamento de Fisiologia da UFS e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Bolsista de Produtividade 1C do CNPq.
Prof. Dr. Adriano Antunes de Souza Araújo (adrianosa2001@yahoo.com.br) – Farmacêutico, Diretor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e Bolsista de Produtividade 1C do CNPq.
Prof. Dr. Pedro Dantas Oliveira (pedrodermato@yahoo.com.br) – Médico e Doutor em Medicina e Saúde pela UFBA, Professor de Dermatologia Departamento de Medicina da UFS.
Atualmente tem sido mais comum encontrarmos pessoas com problemas de pele, entre elas o vitiligo, condição que se caracteriza pela perda da sua coloração (despigmentação). Essa despigmentação é causada pela destruição ou inativação dos melanócitos, células responsáveis pela produção do pigmento, chamado de melanina.
O vitiligo é uma das doenças crônicas de pele mais frequente no nosso dia a dia. Ela afeta cerca de 1% da população mundial, sem preferência de gênero ou etnia, surgindo, na maioria dos casos, antes dos 20 anos de idade. Trata-se de uma doença não contagiosa, mas sem tratamento específico, dificultando o retorno total da cor original da pele.
Mesmo não sendo contagiosa, é importante ressaltar que o vitiligo afeta o lado psicossocial, com prejuízos à autoestima, relacionamentos pessoais, familiares e profissionais, atingindo muitas vezes de forma severa a qualidade de vida dessas pessoas. Essa realidade faz com que muitos ainda sofram preconceito e discriminação devido ao estigma social muito forte em nossa sociedade. Isso pode interferir até mesmo nas suas atividades diárias, incluindo a escolha das roupas e maquiagens para camuflar as manchas em eventos sociais.
Essas manchas brancas são bem delimitadas, com tamanho e em números variados, podendo estar presentes em qualquer parte do corpo. As regiões mais afetadas são as mãos, cotovelos, joelhos e pés. Apesar de ser uma doença muito antiga, pois é descrita desde o Século II a.C., a causa não é totalmente conhecida. Entretanto, os pesquisadores acreditam que ela seja uma doença autoimune, ou seja, causada pelo descontrole do sistema imunológico da própria pessoa. Outra causa com fortes evidências científicas é que o vitiligo se inicie a partir de um processo inflamatório, levando a um desequilíbrio na produção de citocinas (substâncias de resposta de defesa do organismo) a partir do aumento ou diminuição das células inflamatórias.
Devido a essa complexidade de origem, não existe um tratamento específico para o vitiligo com boa resposta clínica. A maioria das terapias existentes leva à recidiva (ao retorno) das manchas ao final do tratamento, gerando frustrações tanto para o paciente quanto para o profissional de saúde. Os tratamentos mais utilizados na dermatologia são os corticóides tópicos e imunomoduladores, que visam repigmentar os locais atingidos. Além disso, sabe-se também que o sucesso do tratamento do vitiligo está diretamente ligado ao controle de fatores emocionais, como ansiedade e depressão, os quais podem levar ao surgimento de novas manchas no corpo.
No intuito de descobrir novas opções mais eficazes para o tratamento do vitiligo, recentemente o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) da Universidade Federal de Sergipe (UFS) tem desenvolvido pesquisas nessa área junto ao Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário – HU. Assim, uma tese defendida recentemente no PPGCS, realizou um ensaio clínico randomizado, controlado por placebo, com a Fluoxetina, um medicamento utilizado principalmente no tratamento de depressão. Estudos com métodos avançados e precisos utilizando modelos experimentais de zebrafish (peixe paulistinha ou peixe-zebra), mostraram o potencial terapêutico da fluoxetina no tratamento de doenças envolvendo a despigmentação da pele, em especial o vitiligo. Somado a estes dados, em 2015, uma patente demonstrou que a fluoxetina aumenta marcadores específicos para a produção de melanina em cultivo de células.
Nesse contexto, a pesquisa realizada na UFS, com dezenove pacientes, com média de idade de 34 anos e voluntários do Ambulatório de Dermatologia do HU-UFS, trouxe resultados interessantes. Nessa pesquisa, um grupo dos participantes recebeu fluoxetina por 6 meses e outro grupo recebeu placebo (cápsulas sem efeito farmacológico). Os resultados mostraram que a fluoxetina aumentou os índices de melanina da pele e diminuiu as manchas, além de reduzir significativamente os níveis de algumas substâncias inflamatórias no organismo.
É importante ressaltar que mesmo com um número pequeno de pacientes testados, esse estudo foi capaz de demonstrar, pela primeira vez, que a fluoxetina pode ser uma alternativa eficaz na repigmentação das manchas, levando uma esperança aos pacientes e profissionais de saúde. Nessa perspectiva, nosso grupo de pesquisa continua trabalhando na avaliação do mecanismo de ação desse medicamento no vitiligo e na avaliação da sua eficácia em um maior número de pacientes para garantir que, num futuro próximo, a fluoxetina possa ser um aliado no tratamento utilizado na prática clínica.
Coordenador da coluna: Dr. Ricardo Queiroz Gurgel – Professor do Departamento de Medicina da UFS