Três Hotéis de Aracaju do século XX: Rubina, Marozzi e Palace

Amâncio Cardoso
Professor de História do Instituto Federal de Sergipe

Aracaju concentra os melhores hotéis do Estado de Sergipe. A maioria situa-se na orla da Atalaia, um lugar onde se encontram diversos atrativos e equipamentos que dão suporte ao turismo.
Contudo, houve um tempo em que os mais importantes meios de hospedagem ficavam no Centro Histórico de Aracaju. Três deles se destacaram no gosto dos sergipanos e dos visitantes: Rubina, Marozzi e Palace.

O Rubina Hotel, localizado numa das esquinas da praça Fausto Cardoso, onde atualmente funciona o Tribunal de Justiça de Sergipe, era propriedade da doméstica Maria Rubina dos Santos (1898-1969), nascida no município de Laranjeiras-SE. Em 1919, D. Rubina veio morar em Aracaju e anos depois instalou o seu hotel.

Hotel Rubina

Ela, portanto, é uma pioneira no ramo da administração de meios de hospedagem em Sergipe. Pois antes de chegar à capital, já havia instalado a Pensão Rubina na cidade de Maruim. Naquela época, era pouco admissível que um estabelecimento frequentado por homens fosse administrado por uma mulher. Por conta disso, Rubina foi moralmente mal vista por muitas famílias tradicionais.

Contudo, ela enfrentou todos os preconceitos e tocou com muito esforço seu empreendimento. Dona Rubina dirigiu o hotel por vários anos, tornando-se conhecida anfitriã de turistas, autoridades e pessoas de negócios que se hospedavam em seu estabelecimento. Ela era auxiliada por seu filho, conhecido como Nelson de Rubina.

O segundo hotel do velho Centro Histórico de Aracaju, era o Marozzi, fundado em 1934 e fechado em 1965. Dirigido pelo italiano de Bolonha, Augusto Marozzi (1888-1969).

Ele trabalhava na legação brasileira de Veneza, na Itália, quando conheceu o diplomata e escritor sergipano Ciro de Azevedo. Da amizade surgiu o convite feito por Ciro para que Marozzi o acompanhasse de volta ao Brasil.

Hotel Marozzi

Convite aceito, o mordomo italiano desembarcou no Rio de Janeiro, onde permaneceu algum tempo, até vir para Sergipe servir no Palácio do Governo, que desde 24 de outubro de 1926 passou a ser ocupado pelo diplomata Ciro de Azevedo, o qual faleceria logo depois.

Morto o amigo, o italiano resolveu permanecer em Aracaju. Tempos depois, ele montou o Hotel Marozzi, primeiramente na praça Fausto Cardoso, numa casa onde mais tarde funcionaria o Hotel de Rubina; e que demolida cedeu o terreno para a construção do prédio do Tribunal de Justiça.

Foi, contudo, no número 320 da rua João Pessoa que Augusto Marozzi instalou, em definitivo, o seu hotel. Era uma casa alugada, com dois pavimentos, de propriedade da família Cruz.

Começava uma história de sucesso, que deu a Augusto Marozzi uma imagem de comerciante atualizado, que tudo fazia para tornar seu hotel num ponto requisitado, tanto pelos viajantes e visitantes de outros lugares, como por figuras de sergipanos que preferiam morar no Hotel Marozzi, como o magistrado Enock Santiago; o Monsenhor Doutor Alberto Bragança de Azevedo; o poeta e historiador Pires Winne; o empresário Juca Barreto, proprietário do Cinema Rio Branco; o Dr. Brandão, que foi por muitos anos Secretário Geral do Tribunal de Justiça; o Comandante do 28º BC Maciel Porto, que só saiu do Hotel para casar. Dentre outros hóspedes, o economista e professor Nilton Pedro da Silva, vindo do Recife para trabalhar em Aracaju, foi dos últimos mensalistas do Hotel Marozzi.

O bom relacionamento de Augusto Marozzi o livrou da suspeição e da perseguição motivada pelos torpedeamentos dos navios de passageiros na costa sergipana, pelo submarino alemão U-507, em agosto de 1942. Corria na capital sergipana o boato de que alemães e italianos residentes em Sergipe colaboravam com os ataques das forças de Adolf Hitler, fornecendo informações pelo rádio.

O Marozzi era bem requisitado. O Rotary Club de Aracaju, por exemplo, fez suas reuniões no Hotel Marozzi, desde a fundação em 1934 até o fechamento. Também o Lions tinha os salões do Hotel Marozzi como a sede de suas reuniões sociais. Banquetes, festas, reuniões tiveram naquele hotel momentos de elegância e de bom gosto. Com o fechamento do hotel, Augusto Marrozi doou parte do mobiliário ao Convento dos Capuchinhos, no bairro América, em Aracaju.

Hotel Palace

Quando cerrou suas portas, em 1965, o Hotel Marozzi já não era o melhor, o mais elegante e bem frequentado hotel de Aracaju. Pois, já havia o Hotel Palace, desde 1962, para fomentar o turismo moderno.

O Hotel Palace, situado na Praça Gen. Valadão, trouxe o que havia de mais moderno no ramo da hotelaria de então. Com um projeto arquitetônico moderno de Rafael Grimaldi, o Palace possuía em sua parte térrea 19 lojas e na parte superior 71 apartamentos de alto padrão, piscina, barbearia, restaurante, boate e bar. Durante mais de duas décadas o Palace acolheu turistas, autoridades e artistas famosos, a exemplo do escritor Jorge Amado; os cantores Ângela Maria e Roberto Carlos, e o rei do baião Luiz Gonzaga.

Atualmente, o prédio do Palace ainda se encontra abandonado, merecendo atenção urgente dos órgãos competentes com relação ao precário estado físico, além de requerer uma nova funcionalidade.

Para saber mais:
MENDONÇA, Jouberto; CRUZ E SILVA, Lúcia Marques. Caminhos da capital: 150 motivos para viver as ruas de Aracaju. Aracaju: UNIT, 2007. p. 37.
http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp… . Acesso em 23/02/2013.
http://aracajuantigga.blogspot.com.br/…/hotel-palace-de… . Acesso em 27/03/2013.

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