Uziel Santana/Entrevista – “A maioria dos evangélicos ainda está com Bolsonaro, mas migrando para Moro”

“Bolsonaro traiu a confiança dos 57 milhões de brasileiros que votaram nele para ser um presidente que lutasse contra o sistema. Moro surge, assim, como uma nova esperança de que podemos voltar e corrigir esse grande erro cometido por Bolsonaro”. Quem faz essa avaliação é o professor da Universidade Federal de Sergipe (UFSA), Uziel Santana, um aracajuano que atua no Campus de Itabaiana e que explica, nesta entrevista, o por que de ter se afastado do grupo ligado ao presidente Jair Bolsonaro e se aproximado do pré-presidenciável Sérgio Moro. Ele diz ainda que que no atual processo de disputa pré-eleitoral “temos um presidente incendiário, como o é Bolsonaro, que, de uma noite para outra, pode “colocar fogo no parquinho”, como esta tresloucada viagem de apoio a Putin, tudo pode acontecer. Do outro lado, temos um Lula que teme colocar os pés na rua para não ser hostilizado…”  Ele fala sobre a presença dos evangélicos na campanha de 2022 e destaca que “os evangélicos, ainda em maioria, estão com Bolsonaro, mas agora com Moro, vendo seu perfil e plataforma, estão migrando paulatinamente”. Santana diz ser amigo pessoal de Moro.

A seguir os principais trechos da entrevista:

Eugênio Nascimento

Eugênio Nascimento – O senhor é sergipano de Itabaiana?

Uziel Santana – Sim, sou sergipano, nascido no ano de 1976, em Aracaju, onde tenho meu domicílio civil.

EN – Professor da UFS?

US – Sou egresso do curso de Direito da UFS, onde me formei em 2000; prestei concurso em 2006, onde fui aprovado e sou professor de Direito do Campus de Itabaiana, em processo de remoção para o Campus de São Cristóvão agora em 2022.

EN – O senhor foi um dos coordenadores na esfera nacional da campanha de Bolsonaro? Agora está com Moro? Por quê mudou?

US – Na verdade, não fui coordenador da campanha de Bolsonaro em 2018, nem mesmo tive qualquer cargo ou função no Governo Bolsonaro. Por ter sido presidente da ANAJURE – Associação Nacional de Juristas Evangélicos – e esta importante oUS rganização ter pautas coincidentes, em parte, com a plataforma governamental do Governo Federal, cooperamos em algumas áreas políticas, sem vinculação institucional ou recebimento de recursos públicos.

EN –  O que diferencia Bolsonaro de Moro?

US – Na minha visão, a grande diferença se dá no fato de que Moro sempre, seja na Magistratura, seja no Ministério da Justiça, portou-se como ferrenho e firme combatente da corrupção. Bolsonaro, que foi eleito sob o manto do combate a corrupção, abandonou esta fundamental bandeira e se casou de vez com o fisiologismo e patrimonialismo do Centrão. Ele mesmo disse isso, como também disse que “acabei com a Lava Jato”. Como inviabilizou as propostas do pacote anticrime do Moro, como esvaziou o trabalho do COAF, como sepultou a prisão em segunda instância, como cooperou com o esvaziamento da Lei de improbidade administrativa, e etc. A lista de diferenças é grande neste sentido. O sentimento que muitos de nós temos é de orfandade. Bolsonaro traiu a confiança dos 57 milhões de brasileiros que votaram nele para ser um presidente que lutasse contra o sistema. Moro surge, assim, como uma nova esperança de que podemos voltar e corrigir este grande erro cometido por Bolsonaro. A depender das pesquisas, Moro pode desistir de disputar a Presidência? Esta hipótese sequer foi cogitada, imagine discutida ou tomada esta decisão. A candidatura de Moro vai firme até o final com amplas possibilidades de lograr êxito. Sobretudo porque, num país que temos um presidente incendiário, como o é Bolsonaro, que, de uma noite para outra, pode “colocar fogo no parquinho”, como esta tresloucada viagem de apoio a Putin, tudo pode acontecer. Do outro lado, temos um Lula que teme colocar os pés na rua para não ser hostilizado pelo quadro grave de corrupção nos governos dele e de Dilma. O jogo está aberto. E não é uma competição de 100 metros, mas uma maratona. O braço direito de Moro, assim como o de Bolsonaro é o segmento religioso evangélico? Moro não se coloca como o “messias”, ou salvação, de nenhum grupo. Coloca-se como um servidor que agora, na política, quer servir ao país e lutar pelos valores que o povo brasileiro também luta e quer; por isso mesmo o slogan “Por um Brasil mais justo para todos”. Nesse sentido, não será o presidente dos evangélicos ou de qualquer outra religião. Ele quer ser o presidente de todos, dos que têm religião e dos que não têm. Por assim ser, sua pré-campanha e campanha se pautarão sempre por ser universalizante e abrangente de todos os segmentos.

EN – Os evangélicos estão com Bolsonaro, Moro e Lula? Com alguém mais nas eleições de 2022?

US – Na verdade, os evangélicos membros de igrejas, sejam elas históricas, pentecostais ou neopentecostais, não estão com Lula de jeito nenhum. Se você visitar aqui, por exemplo, em Sergipe, a Universal, a Assembleia de Deus, a Presbiteriana Renovada, a Quadrangular, as igrejas Batistas e Presbiterianas em geral, e perguntar a um fiel o que ele acha de Lula você vai ouvir os piores comentários. E este mesmo quadro se repete em todo país. As pesquisas que aparecem dizendo isso não sabem distinguir exatamente, com critérios objetivos, quem é de fato evangélico, membro de uma igreja, e um mero visitante ou congregado que, vez ou outra, vai a uma igreja evangélica. Os evangélicos, ainda em maioria, estão com Bolsonaro, mas agora com Moro, vendo seu perfil e plataforma, estão migrando paulatinamente. Por onde vamos, a admiração pelo ex-Juiz Sérgio Moro é muito grande. Há um nítido sentimento de gratidão do povo evangélico pelo que ele fez pelo Brasil.

EN – O senhor é evangélico de qual segmento? Filiado a qual partido?

US – Sou de uma família evangélica, nascido e criado numa igreja importante em Sergipe, a Igreja Batista Betel, do Pr. Gerson Vilas-Boas, mas desde 2019, membro da Igreja Presbiteriana de Aracaju, a igreja mais antiga da nossa capital, que recentemente completou 120 anos de fundação, hoje sob a liderança do Rev. Alan Kleber. Não sou filiado a nenhum partido e nem pretendo no atual momento. O Podemos terá candidato a governador de Sergipe? Quais as opções disponíveis? Não tenho como confirmar ou negar isso, porque não é da minha alçada. Agora, como eleitor, espero que sim e que, principalmente, Sergipe possa eleger a competente e dinâmica Danielle Garcia, seja para o Senado, seja para a Câmara Federal. Trata-se de um grande quadro político da nova geração, sendo que, além da competência, tem muito carisma, sabe se comunicar, ouvir o povo, como vimos na campanha para prefeito.

EN – Quantos são os evangélicos no Brasil? E em Sergipe?

US – Hoje, nós evangélicos contamos com cerca de 56 milhões, distribuído em várias matrizes denominacionais, a saber, Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Deus é amor, Verbo da Vida, Sara Nossa Terra, Fonte da Vida, Universal, Internacional da Graça, Igreja Mundial, Batistas, Adventistas, Presbiterianos, Luteranos, Metodistas, Congregacionais, Anglicanos, Menonitas, Reformados, etc. Em Sergipe, estima-se que os evangélicos são cerca de 20% da nossa população.

EN – Qual é a sua atividade na campanha de Moro? Moro vem. SE quando?

US – Moro é um amigo pessoal há muitos anos. No final do ano passado ele me convidou para ser o coordenador nacional do núcleo evangélico da pré-campanha, responsável pela comunicação do pré-candidato com o segmento cristão e também outras religiões.

EN – Qual será a principal linha de discurso de Moro?

US – Acho que tem ficado claro nos pronunciamentos, entrevistas, eventos de que ele tem participado, que Moro, inteligente como é, tem uma plataforma de governo para o país que vai muito além do combate a corrupção. Como ele tem dito, precisamos sair deste momento de crise econômica, que tem levado milhões de brasileiros a passar fome e estarem abaixo da linha da pobreza; precisamos modernizar de fato o Estado, voltar urgentemente com as políticas de combate a corrupção e, como dizia Rui Barbosa, não ter vergonha de ser honesto. Moro também é um conservador; mas um conversador democrático. Sabe conviver com opiniões e crenças diferentes. Não é dado a radicalismos de nenhum tipo. Ele só é radical e implacável na pauta de combate a corrupção.

EN – O atual vice Mourão pode ser aliado de campanha de Moro? US – O Mourão é o vice-presidente mais fiel que tivemos nos últimos anos. Uma fidelidade do tipo Marco Maciel. Porque suportar as humilhações públicas de Bolsonaro todos os dias é para poucos. Ele, de fato, é um quadro político muito qualificado e quem sabe não passa para o time de alguém que sabe conviver democraticamente com todos, que é o caso de Moro.

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