Vacinação: um processo próximo de um nível crítico perigoso? – Parte 1

Antônio Carlos Sobral Sousa – Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação


Este tópico foi abordado em um interessante artigo, publicado na edição de 5/1/2024 do prestigiado periódico JAMA (DOI:10.1001/jama.2023.27685). Depois da introdução do saneamento básico e da água potável, a vacinação constitui uma das intervenções em saúde pública mais eficazes, responsável por salvar milhões de vidas, todos os anos, mundo afora. As vacinas, antes de serem disponibilizadas para a população, têm a sua segurança e eficácia demonstradas em estudos clínicos bem conduzidos. Além do mais, a sua segurança a longo prazo é monitorizada, continuadamente, mediante múltiplos mecanismos de vigilância, como o Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas (https://www.fda.gov/vaccines-blood-biologics/safety-availability-biologics/cber-biologics-effectiveness-and-safety-best-system). Apesar disso, um número crescente de pessoas passou a recusar a imunização, por razões variadas, que vão desde preocupações de segurança, crenças religiosas e, idealismo político. A situação deteriorou-se ao ponto de a imunidade da população contra algumas doenças infecciosas evitáveis estar em risco, e é provável que ocorra excessivo número de mortes, por doenças passíveis de prevenção. Vale lembrar que doenças como a poliomielite e a varíola foram erradicadas e viroses como o sarampo, a rubéola e a caxumba, praticamente desapareceram, como consequência das eficazes campanhas de vacinação.


Lamentavelmente, a hesitação pediátrica relativamente à vacinação, tende a fazer recrudescer essas perigosas mazelas, sobretudo em populações menos favorecidas. Além de fazer a diferença em relação à imunização infantil, espera-se que a comunicação, sobretudo por parte dos profissionais de saúde, acerca dos benefícios potenciais da imunização, também possa melhorar o número de indivíduos que aceitam a vacinação para se protegerem contra a Covid-19, a gripe e a doença do vírus sincicial respiratório. Segundo o renomado professor de pediatria do Departamento de Medicina e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Dr. Ricardo Gurgel, as crianças de 6 meses a 5 anos de idade, que constituem um grupo especialmente vulnerável aos malefícios do SARS-Cov-2, são elegíveis e têm o direito à vacinação básica com três doses. Cabendo, portanto, aos pais proporcionarem esta ação. Segundo Gurgel, “elas precisam receber este comprovado esquema de proteção para o excesso de morbimortalidade que a referida virose tem provocado nessa faixa etária, especialmente naqueles que não receberam o imunizante”.

Na esteira dessa interlocução, a conceituada Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgou no dia 13 de janeiro do corrente, uma nota técnica em defesa da ciência, das vacinas e da vacinação. Segundo o comunicado, “A Fiocruz se soma às instituições e entidades científicas do país e reafirma seu compromisso com a sociedade brasileira em defesa das vacinas, uma das maiores conquistas científicas da humanidade, frente aos preocupantes movimentos de desinformação em curso”. Continua a comunicação: “A incorporação da vacina contra Covid-19 para crianças de seis meses a menores de cinco anos de idade ao Calendário Nacional de Vacinação garante o benefício da proteção conferida pela vacina a esta importante faixa etária da população do país. Os dados do Ministério da Saúde (MS) apontam para aumento, entre 2022 e 2023, da incidência de casos e da mortalidade por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) relacionada à Covid-19 entre crianças menores de 5 anos no país. É sabido que essa vacina protege contra a infecção, evolução da doença e internações”.


Vale ressaltar, ainda, que a taxa de vacinação contra os agentes patógenos acima referidos é também angustiante nos indivíduos mais velhos, nos quais os benefícios da imunização na redução da hospitalização e da morte são eminentemente claros.


Finalizo, citando Anna Eleanor Roosevelt (in memoriam), esposa do ex-presidente estadunidense, Franklin Delano Roosevelt: “Mentes pequenas, discutem pessoas, fofocam! Mentes medianas, discutem eventos. Mentes grandes, discutem ideias”.

Antônio Carlos Sobral Sousa – Professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação

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